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Produção de Mudas e Sementes em Apuí gera renda local e benefícios ambientais

Produção de Mudas e Sementes em Apuí gera renda local e benefícios ambientais

Em economia, demanda é um conceito para “a disposição de comprar determinada mercadoria ou serviço”, também conhecida como “procura”. Em Apuí, município localizado no extremo sul do Estado do Amazonas, a recuperação de áreas degradadas mobilizou produtores locais e organizações ambientais em uma parceria que já começa a mostrar resultados.

 

Uma parceria entre um tradicional produtor de mudas de Apuí e a organização não governamental Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas), vem transformando aos poucos o município do sul do Amazonas em um potencial produtor de mudas. O trabalho começou em março de 2011, quando o instituto – em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma-Apuí) e com o apoio financeiro do Fundo Vale para o Desenvolvimento Sustentável – deu início ao projeto “Semeando Sustentabilidade em Apuí”. Em apenas dois anos, a produção local de mudas chegou a 60.000 unidades/ano (2012) e a cidade ganhou uma rede de coleta de sementes estruturada e atuante.

 

Viveiro Santa Luzia

 

O protagonista dessa iniciativa é o viveirista Dalcir Saatkamp (foto acima), de 64 anos, proprietário do Viveiro Santa Luzia (VSL). O interesse do catarinense por mudas veio desde a infância, por influência e incentivo do avô. No anos 80, com a mudança para o município do sul do Amazonas durante a criação do Projeto de Assentamento (PA) do Juma, veio a tentativa de transformar o interesse em um negócio. Que seguiu em uma escala “artesanal” durante muitos anos, com altos e baixos e até um recente abandono do negócio, em função das diversas dificuldades em mantê-lo.

 

Com o início do Semeando Sustentabilidade em Apuí, o viveiro de propriedade de Saatkamp foi escolhido como um parceiro fundamental para o desenvolvimento das atividades. Mais do que garantir a oferta de sementes e mudas de espécies florestais nativas para ações de reflorestamento, o objetivo era gerar renda dentro de Apuí, empoderando atores locais na proposta de transformação ambiental do município.

 

Em dois anos de projeto, aproximadamente R$ 180 mil reais foram investidos no viveiro. Além de melhorias em infraestrutura e aquisição de equipamentos e insumos, o SSA também ofereceu assistência técnica ao empreendimento –atualmente três profissionais do instituto atuam diretamente no VSL, um engenheiro florestal, uma gestora ambiental e um técnico agrônomo. “Eu trabalhava com mudas apenas por tradição e por gosto, técnica eu não tinha. Agora, com esses novos conhecimentos, a gente tá caminhando melhor”, afirma Saatkamp.

 

De acordo com o biólogo Gabriel Carrero, coordenador do projeto em Apuí, a estruturação de sementes e mudas em Apuí está atingindo outro patamar. “O Santa Luzia conseguiu entrar na concorrência de um edital estadual para a produção de mais de 1,5 milhão de mudas. Nossa proposta foi a melhor, mas não alcançamos o balanço anual mínimo previsto, por se tratar de uma empresa em início de sua expansão. Mas esse aprendizado será fundamental para os próximos editais”, explica.

 

As propostas de reflorestamento do projeto, somadas à crescente demanda por recuperação de Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL) na Amazônia Legal são os principais catalizadores de oportunidades; mas um mercado de sementes e mudas mais abrangente é possível. Até dezembro de 2012, além das mudas utilizadas para as atividades de reflorestamento, a venda aberta do VSL alcançou 20 mil unidades. “Os proprietários rurais de Apuí já começaram a comprar mudas, embora que em pequena escala. Ainda assim, isso é bastante positivo e demonstra uma mudança de atitude na sociedade apuiense em relação ao plantio de árvores” explica Carrero.

 

Rede de Sementes

 

Em parceria com o Centro de Sementes Nativas do Amazonas (CSNAM) e a Rede de Sementes do Xingu, o projeto Semeando Sustentabilidade em Apuí capacitou 22 coletores de sementes em Apuí, entre estudantes, ribeirinhos, extrativistas e trabalhadores rurais. Como resultado, apenas no primeiro ano de atividade – de março de 2011 a fevereiro de 2012 – o grupo mapeou mais de 50 árvores matrizes e extraiu 400 kg de sementes, destinados para a produção de mudas. Hoje, já são cerca de 140 matrizes cadastradas e a quantidade de sementes já chega a três toneladas.

 

Além de todo o equipamento necessário para a escalada nas árvores matrizes, os coletores também passaram a contar com a Casa de Sementes, espaço construído nas dependências do viveiro e voltado para os trabalhos de beneficiamento e estoque das sementes, funcionando ainda como um espaço de convivência do grupo.

 

Outra forma de potencializar o trabalho veio através do uso da tecnologia: no lugar de formulários de papel, canetas, pranchetas e aparelhos de GPS, os coletores utilizam um único instrumento: o celular. Equipado com sistema operacional Android e plataforma Open Data Kit (ODK), o aparelho permite que todos as informações sejam cadastradas em um banco de dados, que facilitará os trabalhos dos coletores.

 

Para Carrero, a oferta de sementes nativas para Apuí está garantida, embora a demanda por sementes nativas no Brasil seja grande. “A rede deve ser fortalecida e expandida ainda, com a capacitação de mais coletores e melhor estruturação. O enfoque maior este ano [2013] será na produção de sementes, tanto em quantidade como em variedade”, projeta.

 

Apuí e a fronteira do desmatamento

 

Apuí – localizado às margens da Rodovia Transamazônica (BR-230) e distante 500 quilômetros de Manaus em linha reta – está localizado em uma região considerada a nova fronteira de expansão do desmatamento na Amazônia e tem chamado atenção por se tornar, gradativamente, um dos maiores desmatadores do Estado: já ocupa o terceiro lugar, atrás apenas de Lábrea e Boca do Acre, de acordo com informações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

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