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Novas oportunidades para projetos de REDD+ Indígena

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Novas oportunidades para projetos de REDD+ Indígena

Por Heberton Barros, pesquisador do Programa Mudanças Climáticas e Serviços Ambientais

* editado em 19/09/2013

Entre os dias 8 e 13 de Agosto, o IDESAM realizou uma expedição à Terra Indígena Zoró – no município de Rondolândia (Mato Grosso), próximo à divisa com Rondônia – com o objetivo de avaliar o potencial para implantação de projetos de REDD+ e PSA na terra Indígena. Junto com o IDESAM estavam pesquisadores da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé e Equipe de Conservação da Amazônia – ECAM.

Inicialmente realizamos uma breve reunião de apresentação com as lideranças da Associação do Povo Indígena Zoró – APIZ para apresentação da equipe e do trabalho que seria realizado, a metodologia e as informações que buscávamos.

Eles nos indicaram as lideranças indígenas e as pessoas com maior conhecimento de causa acerca da história do Povo Zoró e, principalmente, sua relação com a floresta e com a terra, que era o tema de maior interesse para nós.

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Durante os cinco dias de expedição visitamos grande parte das aldeias e rodamos por toda a extensão das estradas que cortam a Terra Indígena. Em todas elas, a acolhida era acompanhada por um ar de expectativa, com olhares curiosos para saber quem éramos e o que estávamos fazendo ali, dentro do seu território, dentro da sua casa.

Sempre simpáticos e receptivos, compartilhavam seus alimentos e bebidas conosco, e foi quando tivemos a oportunidade de saborear a “macaloba”, bebida viscosa, com sabor e coloração fortes e feita a base de mandioca, batata doce ou até mesmo banana da terra. Além de ser uma bebida de socialização e confraternização (para ser apreciada em uma boa roda de conversas), a macaloba é um dos principais alimentos da etnia Zoró.

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E é durante essas conversas de socialização que somos surpreendidos por macacos, porcos do mato, araras, entre outros animais silvestres, normalmente adotados como animais de estimação pelas crianças da aldeia.

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Dentro da Terra Indígena fizemos reuniões e entrevistas com as lideranças, e a partir das informações oferecidas avançamos com a elaboração do Mapeamento de Riscos e Ameaças ao Território Zoró.

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Com algumas informações divulgadas pelo projeto PRODES, já havíamos identificado grandes extensões de desmatamento e fomos até os locais para realizar um breve diagnóstico. A princípio, imaginávamos que estas áreas de florestas teriam sido abertas para a conversão da terra em pastagens. Contudo, ao chegar ao local, além dos famosos paliteiros (troncos de árvores carbonizados por incêndios florestais), encontramos áreas de pastagens dominadas por uma vegetação arbustiva e samambaias, e o mais incrível, não havia uma única cabeça da boi!

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Pela observação das áreas e alguns relatos locais, fica evidente que a florestal original foi destruída pelo descontrole do manejo do fogo. Aqui, é importante lembrar que o uso do fogo é a “ferramenta” mais antiga utilizada para a limpeza de áreas para implantação de roçados de subsistência e ainda é uma das mais utilizadas atualmente.

As primeiras aberturas de áreas para a implantação de pastagens dentro da Terra Indígena foi feita por colonos invasores, que se aproveitaram de um momento de transição cultural do povo indígena Zoró para invadir o território. Essas áreas formaram verdadeiras cicatrizes na floresta dentro do território Zoró, onde qualquer faísca ou “sinal de fumaça”, aliados às intensas secas dos últimos anos, são capazes de causar incêndios florestais com proporções consideráveis.

Outro ponto que chamou nossa atenção foi a quantidade de madeira extraída de forma ilegal dentro da Terra Indígena. Ao percorrer as estradas observamos carreadores que rasgavam floresta adentro, de onde saíam caminhões carregados de toras e enquanto entravam outros carregados com maquinário pesado para abrir ainda mais carreadores e arrastar as toras até as esplanadas.

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Conversando com algumas lideranças sobre a situação, a resposta sempre seguiu o mesmo caminho: a extração da madeira existe porque não há outras alternativas de geração de renda.

Fica evidente que o principal trabalho a ser realizado nesta TI é a geração de renda. Neste momento, os projetos de REDD+ e PSA podem contribuir com a atração de recursos para a implantação de projetos desenvolvidos pelo próprio Zoró, com autonomia, o que garante continuidade e uma efetiva implantação.

Extrativismo

Hoje em dia, a principal atividade econômica desenvolvida pelos Zoró é a extração de Castanha. A coleta é feita pelos indígenas e absorvida completamente pela associação local (a APIZ), que se encarrega do transporte, armazenamento e comercialização do produto. O potencial de produção ultrapassa 70 toneladas por ano.

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Em 2003, os Zoró começaram a participar do Programa Integrado da Castanha (PIC), promovido pelo PNUD e SEMA/MT, do projeto Pacto das Águas. Para saber mais, visite:pactodasaguas.org.br.

Atualmente, a associação vem buscando melhorar ainda mais a produção da castanha, no seu beneficiamento e embalagem, para agregar ainda mais valor ao seu produto, atingindo níveis de qualidade exigida por importantes padrões de certificação. Dessa forma, eles esperam melhorar o preço pago pela castanha e aumentar a renda dentro da TI.

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