Experiências da América Latina em Agroecologia
Por Vinícius Figueiredo, pesquisador do Programa Mudanças Climáticas do Idesam.
Durante a semana de 8 a 14 de setembro de 2013, participei do Congresso Latinoamericano de Agroecologia, realizado em Lima, capital do Peru. Como atividade pré-congresso, os organizadores do evento realizaram um curso voltado para a Agroecologia e Soberania Alimentar.
Com duração de dois dias, o curso contou com diversas palestras sobre os diferentes eixos de atuação na área de agroecologia e experiências consolidadas em países como Cuba, México, Colômbia e Brasil.
A importância da multidisciplinaridade no “desenvolvimento sustentável” para a agricultura familiar ganhou bastante destaque entre o conteúdo apresentado. Prova disso é que, além de técnicas sobre manejo e resiliência de sistemas frente às mudanças climáticas e ao ataque de pragas e doenças na agricultura à assuntos geralmente debatidos e de cunho mais técnico, também houve palestras de representantes de movimentos sociais, como, por exemplo, a Via Campesina, organização de trabalhadores rurais, povos sem terra e indígenas de todo o mundo, que esteve presente compartilhando suas experiências.
Sala lotada durante os dias de curso de Agroecologia e Soberania Alimentar.
O conhecimento adquirido durante o curso poderá ser praticado nos projetos que o IDESAM desenvolve, principalmente no município de Apuí, onde trabalhamos com produtores familiares sobre a produção de café e pecuária de forma alternativa aos pacotes de alto uso de insumos da agricultura convencional.
O IV Congresso Latinoamericano de Agroecologia teve duração de 3 dias e foi realizado na Universidad Nacional Agraria La Molina. No evento, havia participantes de muitos países e o Brasil esteve bem representado com trabalhos expostos na forma de banner e apresentações orais.
Nos espaços de conferências e simpósios, foram abordados temas sobre a agricultura tradicional e biodiversidade, manejo agroecológico de pragas, comercialização local, agricultura urbana, movimentos sociais e políticas agrárias.
Como o próximo ano será reconhecido pela FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) como “o ano da agricultura familiar”, foi apresentada uma proposta para a realização de um evento internacional dedicado ao tema, incluindo assim a participação relevante de países da Ásia e África, onde existe uma demanda crescente para as práticas agroecológicas de produção de alimentos.
Anfiteatro principal e exposição de banners (Universidad Nacional Agraria La Molina)
O Projeto Café em Agrofloresta teve seus resultados preliminares apresentados e foi possível o contato com outras organizações e pessoas interessadas no assunto, de modo a contribuir para a continuidade do trabalho e a formação de novas parcerias.
Banner do Projeto Café em Agrofloresta e cerimônia de encerramento do Congresso.
Finalmente, ficam cada vez mais claras as consequências negativas dos modelos propostos pela revolução verde, que não levaram em conta a instabilidade dos fatores ambientais e hoje tentam corrigi-los através de praticas insustentáveis como o uso de variedades transgênicas e altas quantidades de insumos químicos.
Hoje a agroecologia é vista por muitos apenas como uma maneira alternativa de produzir alimentos, porém deve ser entendida como uma ciência fundamental para a manutenção da agricultura em pequena escala e o desenvolvimento rural sustentável.
