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Luciana Villa Nova: “Precisamos de parceiros que acreditem na região como fonte de desenvolvimento”

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Luciana Villa Nova: “Precisamos de parceiros que acreditem na região como fonte de desenvolvimento”

Comunicação PPA
Imagem: Capital Aberto

 

Entrevistamos Luciana Villa Nova, gerente de Sustentabilidade da Natura e responsável pelo Programa Amazônia, que entrou como trainee da empresa há 22 anos. Luciana, que trabalhou durante vários anos na área de Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos, entrou na área de  sustentabilidade em 2010. “A Natura é uma grande escola de sustentabilidade e resolvi mudar pois queria viver na prática a busca da empresa em se tornar cada vez mais sustentável.”, comenta sobre a decisão.

 

Uma empresa referência em sustentabilidade.

A atuação da Natura na região Amazônica começou em 1998. Dois anos depois, foi lançada a linha Ekos, que utiliza óleos e manteigas de plantas e sementes locais na produção dos cosméticos.

Mesmo com uma atuação de longa data na região, a empresa reforçou sua atuação em 2010, quando foi criado o Programa Amazônia, composta por uma série de compromissos públicos e internos que a empresa assumiu com o desenvolvimento sustentável na região.

Foi na mesma época que o termo “economia de floresta em pé” foi cunhado – hoje, o jargão é amplamente utilizado por empresas e instituições que falam sobre sustentabilidade na região.

Um exemplo da economia de floresta em pé é o estímulo que a empresa dá para comunidades extraírem a manteiga de Ucuuba, árvore local que antes era derrubada para fazer vassouras e outros produtos de menor valor agregado. “Com a manteiga, os moradores ganham três vezes mais por ano, porque ela tem maior valor agregado. Além disso, a árvore não é cortada e se mantém em pé, ou seja, pode ser utilizada ano após ano”, explica Luciana.

Apesar de ser considerada uma referência em sustentabilidade, a empresa está sempre buscando trazer melhorias e inovação: “Ficamos felizes em inspirar outras empresas, mas não fazemos isso pelo reconhecimento. A sustentabilidade está no DNA e no compromisso de ‘bem estar bem’, razão de ser da empresa”, comenta a gerente.  “Também nos sentimos mais desafiados a  continuar inovando, para nos inspirarmos cada vez mais”, complementa.

 

Atuação na Amazônia e relação com a PPA.

O Programa Amazônia é baseado na promoção de economia baseada na conservação e regeneração da floresta, bem como na valorização das populações locais. Luciana apresentou os três caminhos traçados pelo programa, bem como os compromissos que a empresa assumiu e as conquistas que alcançou.

O primeiro caminho é Ciência, Tecnologia e Inovação, onde a empresa investe em pesquisa com parceiros regionais, afim de conhecer e aproveitar cada vez mais os benefícios da sociobiodiversidade. O objetivo é que 30% dos insumos utilizados pela empresa, em termos financeiros, venham da região.

O segundo caminho é a criação de Cadeias Sustentáveis. Desde os primeiros projetos locais, realizados há duas décadas, a empresa sempre buscou estimular o empreendedorismo comunitário. Assim, fortalece cooperativas agroextrativistas, ajudando-as tanto no manejo sustentável da floresta, quanto na produção agrícola sustentável, em especial como modelos de sistema agroflorestal (SAFs). Busca assim também a geração de renda adequada às comunidades, buscando sempre agregar maior valor ao produtos. Como um exemplo disso, a empresa criou micro usinas, que produzem os bioativos nas próprias comunidades e os envia ao Ecoparque, unidade fabril da empresa em Benevides, no Pará.

Nesta área acumula diversas conquistas: a empresa colocou como meta gerar R$ 1 bilhão em negócios locais até 2020 e atingiu a meta 3 anos antes. Também, 80% dos sabonetes distribuídos pelo Brasil inteiro são produzidos no Ecoparque. Por fim, recentemente a empresa  recebeu o certificação internacional  UEBT (União para o Biocomércio Ético) para a linha Ekos. O selo reforça três pilares que norteiam os negócios da empresa: comércio justo, conservação da biodiversidade brasileira e promoção de desenvolvimento social com a comunidade.

Apesar dos dois caminhos acima estarem ligados à PPA, é o terceiro caminho que tem uma ligação mais forte: o Fortalecimento Institucional.  A  empresa elencou alguns temas prioritários para fortalecimento e entre eles está o empreendedorismo, principalmente via cooperativas. A abordagem de sustentabilidade da empresa está conectada à estratégia e valores da PPA, principalmente no que tange o empreendedorismo e negócios de impacto social.  “A forma mais ágil de escalar e capturar inovação de produtos, sistemas e processos é por meio do empreendedorismo.”, ressalta Luciana.” Precisamos de parceiros e pessoas que acreditem na região como fonte de desenvolvimento.”, completa.

A empresa apoia a formação de redes locais, formadas por cooperativas, ONGs, órgãos governamentais e empresas, que juntas desenham projetos. Por exemplo, na região do Médio Juruá, decidiu-se investir na pesca do Pirarucu, que é a vocação do território, dentre outras atividades.

 

Desafios para quem está há muito tempo e para quem está começando.

Apesar da atuação de duas décadas na região, Luciana destaca que os desafios são imensos e destaca alguns motivos: “O sistema não favorece outras empresas a ingressarem na região com o foco da floresta em pé. Há falta de incentivo fiscal ou tributário para empresas que se preocupam, além da complexidade de acesso à mão de obra e serviços.”

Para quem está começando a atuar na região, a gerente destaca dois pontos: escuta e perenidade. “A escuta às comunidades, valorizando a cultura e os saberes locais, é fundamental para o êxito de projetos da empresa. A empresa não é um interventor, é somente mais um participante que está dialogando com a comunidade”, completa. Flávia Neves, da Coca-Cola Brasil, que foi entrevista pela PPA, também destacou a importância de respeitar a dinâmica regional.

O outro é sobre a perenidade dos projetos. “Quando uma empresa começa um projeto de sustentabilidade e o termina em pouco tempo, pode ser que o resultado seja mais danoso do que benéfico para a comunidade”, explica Luciana. Por isso, a gestora defende que as empresas que querem investir na região têm que ter clareza de onde querem chegar. “A empresa pode mudar a rota e aprender, mas é necessário consistir no longo prazo”, complementa.

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