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Novas parcerias expandem reflorestamento e produção de café agroflorestal no sul do AM

Novas parcerias expandem reflorestamento e produção de café agroflorestal no sul do AM

Por Henrique Saunier
(Foto tirada antes da pandemia)

 

Moradora da zona rural de Apuí-AM, dona Maria Bernadete Diniz produz em seu sítio, com a ajuda do seu filho, mandioca, cará, banana e diversas outras frutas que viram alimentos do dia a dia. Assim como outras 30 famílias de agricultores da região, dona Bernadete também é responsável pela produção do Café Apuí Agroflorestal Orgânico, que hoje já consegue chegar às casas dos consumidores de norte a sul do País. Fruto da iniciativa do Idesam em apoiar a cadeia produtiva sustentável do café em um município com alto índice de desmatamento e queimadas, o projeto agora visa uma expansão para os próximos cinco anos, com planos de aumentar em 10 a 15 vezes o número de famílias cafeicultoras beneficiadas na região.  

Em seu sítio que fica em uma vicinal a alguns minutos da sede do município, enquanto corta uma jaca e serve um café recém passado, dona Bernadete fala com orgulho das suas conquistas nos últimos anos, sendo as mais significativas a sua casa de farinha, onde produz farinha com a mandioca plantada na sua propriedade; e o seu cafezal, que graças ao auxílio técnico por meio projetos capitaneados pelo Idesam conseguiu mais do que dobrar a sua produtividade. 

“Os vizinhos sempre comentavam para eu acabar com o café. Eu respondia sempre para deixar o meu café aí, pois um dia eu iria aprender. Quando foi um dia eu cheguei em casa e vi um convite debaixo da porta, que era do Idesam, falando que iam ajudar a gente a aprender a mexer com o café dessa forma. Eu fui mesmo com aquele interesse e falei para o técnico que se me colocassem no projeto eu iria vestir a camisa”

– Maria Bernardete Diniz, produtora de café agroflorestal. 

 

São histórias como essa que impulsionam o Idesam a fechar parcerias que promovam o reflorestamento por meio da plantação de café consorciadas com outras culturas em Sistemas Agroflorestais (SAFs), com mais geração de renda a pelo menos 40 novas famílias (em uma projeção para os próximos anos). Pedro Soares, gerente do Programa de Mudanças Climáticas (PMC) e coordenador da iniciativa Carbono Neutro Idesam, que desde o início tem acompanhado a evolução do projeto Café em Agrofloresta, ano passado encarou o desafio de levar o já bem sucedido modelo de compensação de carbono aplicado na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã para áreas de produção de café no município de Apuí. 

Mesmo em um ano desafiador, Soares destaca os primeiros resultados em Apuí apontam 11 hectares de café em sistemas agroflorestais implantados. Entre as parcerias que beneficiaram diretamente o plantio de café na região, se destacam a Farm e Volcafé em conjunto com a Aliança Apuí, iniciativa criada pelo Idesam para combater e mitigar os impactos das queimadas na região. 

Além dessa ação específica, Farm e ERM (Environmental Resources Management) fecharam acordos de compensação de emissões, com sete famílias beneficiadas diretamente. Outros grandes projetos com a We Forest e ReNature também foram iniciados em 2021, com a expectativa de implantar 175 hectares de SAFs em Apuí, impactando ainda mais famílias. 

Atualmente em processo de mapeamento destas famílias, ligadas à Associação Ouro Verde (organização de produtores parceira do Idesam em diversos projetos), Soares adianta que a seleção deve ocorrer em abril e ressalta o real significado por trás de todo o apoio aos cafeicultores locais. “É uma história muito maior do que produzir café. É o que garante a renda dos produtores e uma grande alternativa econômica. Mas é mais do que isso, nós estamos provando que é possível conciliar produção, economia, geração de renda, com sustentabilidade. Sempre nos propusemos a implantar alternativas concretas para o desenvolvimento da Amazônia. Então se a gente consegue desenvolver bons modelos em Apuí, quer dizer que eles podem ser replicados em grande escala para outros municípios”, reforça Soares. 

 

Terra antes improdutiva

A produção do café agroflorestal em Apuí sempre enfrentou muitos desafios, entre eles a agregação de valor ao produto final. Isso significa garantir, além do bom fruto, beneficiamento, torrefação, ensacagem e venda do grão. Sem atravessadores e com as parcerias locais certas, os agricultores hoje têm um retorno bem maior.

João Nilton Julião, outro produtor da zona rural de Apuí que acreditou na iniciativa desde o início, relata que sua família sempre trabalhou com café, desde antes de se mudarem do Espírito Santo para o Sul do Amazonas.

“Quando a gente veio para cá, a terra não era produtiva. A gente plantou café na terra de um outro tio meu, mas abandonamos lá e viemos pra cá, que era uma terra que já produzia, tinha outras lavouras. E então em 2012 veio essa possibilidade de trabalhar junto ao Idesam e estamos até hoje”

– Nilton Julião, produtor de café agroflorestal.

 

O produtor também entrou para o time de produtores com a certificação orgânica, algo que junto à Rede Maniva de Agroecologia, o Idesam também busca expandir nos próximos anos. “Na produção do café comum, quem usa veneno, quem usa adubo, faz com mais facilidade, tem um preço menor. E esse produzido com o apoio do Idesam de maneira orgânica é diferente, tem uma etapa a ser seguida, tem uma meta, aí você vai ter que se adequar. Às vezes você pode colher até menos, mas o preço é melhor e compensa. E outra coisa é a saúde né, pois você não mexe com veneno”, completa Julião. 

Quando o Idesam desembarcou em Apuí, percebeu que existia uma oportunidade para trabalhar nos cafezais inativos. Na época, os cafeicultores estavam abandonando os cafezais, o que acabou deixando as áreas sombreadas. Ao prestar assistência técnica na região, o Idesam começou a ouvir questionamentos dos produtores sobre a recuperação de cafezal abandonado. Após uma análise conjunta, os técnicos do instituto perceberam que o cafezal que estava embaixo das árvores produzia um grão muito maior, uma variedade de café adaptado para sombra, conhecido como conilon.

Para Marina Reia, a própria força da “marca” Amazônia no produto final agrega um grande diferencial no mercado, ainda mais por se tratar de um café orgânico e atrelado a um projeto de desenvolvimento social. Reia lembra que após conseguir aporte financeiro para a retomada dos cafezais com uma pegada ambiental e realizar os contatos iniciais com as famílias, o Idesam conseguiu engajar os produtores que entraram de cabeça na iniciativa. Ano após ano, o instituto encarou o desafio de garantir as mudas para o projeto, montando um arranjo produtivo agroflorestal na região.

“Por onde a gente vai, com investidores que a gente conversa, todo mundo diz, e é também nossa análise, de que a gente está no caminho certo para expandir essa iniciativa e Apuí ser uma referência na produção de café sustentável”

– Marina Reia,  coordenadora do Idesam em Apuí. 

 

“Já temos todos o diagnóstico de produtores, resultados do Café Apuí atingidos ao longo desses anos, que foram muito positivos. Agora estamos conseguindo colher resultados de aumento de produtividade e de renda para essas famílias e a tendência é expandir áreas e novos produtores, unindo toda a nossa experiência daquilo que temos realizado na RDS do Uatumã, mas também com novos modelos de parcerias”, completa Pedro Soares.

 

O projeto Café em Agrofloresta

Oitavo município do Brasil com a maior taxa de desmatamento decorrente da produção pecuária insustentável e sem ganhos sociais, Apuí/AM se tornou o cenário ideal para a implantação de um programa voltado à regeneração de terras degradadas. Por meio da iniciativa de resgate e valorização das tradições da agricultura familiar, aplicando técnicas de Sistemas Agroflorestais (SAFs), desde 2012 o Idesam e agricultores locais trabalham juntos no projeto Café em Agrofloresta. Com o uso de tecnologias adequadas e acessíveis aos produtores, além de regenerar áreas degradadas, o fomento à atividade trouxe benefícios sociais e econômicos para as famílias envolvidas no projeto ao longo de toda a cadeia produtiva. O projeto oferece todo um suporte aos produtores, desde a coleta das sementes para produzir as mudas até a comercialização do café.

Com todo esse trabalho de apoio na cadeia local, o projeto gerou dois produtos: o Café Apuí Agroflorestal (o primeiro do tipo na Amazônia) e o Café Apuí Agroflorestal Orgânico, que despontam como uma alternativa sustentável de geração de renda para conter o desmatamento. Para mais informações, acesse https://idesam.org/cafe-em-agrofloresta/

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