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Flávia Neves: “Projetos sociais devem gerar autonomia nas comunidades”

Flávia Neves: “Projetos sociais devem gerar autonomia nas comunidades”

Comunicação PPA

 

Na entrevista deste mês, conversamos com Flávia Neves, Gerente de Sustentabilidade da Coca Cola Brasil e responsável pelos temas Água e Amazonas dentro da empresa. Ela destacou a importância da sustentabilidade estar atrelada ao negócio e à estratégia da empresa. Por exemplo, destacou que 70% dos fornecedores de frutas são de agricultura familiar e apresentou as estratégias para alcançar cadeias produtivas sustentáveis.

 

A Coca Cola tem uma cadeia de valor que impacta 11 mil famílias na região amazônica, entre colaboradores, prestadores de serviço, e fornecedores de matéria-prima. Em termos de estratégia, a empresa busca trabalhar com três eixos de atuação na região. Primeiro, com uma influência tão grande na região, a empresa reconhece seu papel no desenvolvimento econômico da Região Norte do Brasil. Também é parte da estratégia gerar inclusão social por meio da geração de emprego e renda. Por fim, a empresa tem foco na conservação e proteção da floresta.

“A cadeia de suprimentos é o coração da nossa estratégia na Amazônia”, explica Flávia. Por isso, a empresa investe em modelos de negócios que trazem a sustentabilidade para a região.

Um dos projetos em que a empresa investe é o fortalecimento de cooperativas que extraem açaí no território do Médio Juruá. “O extrativismo do açaí sempre existiu na região, mas não de forma estruturada”, comenta Flávia. A empresa apoiou as famílias no manejo sustentável do açaí, além de investir na logística, segurança do trabalho e rastreabilidade da produção.

 “Nosso objetivo era trabalhar com um produto extrativista, ou seja, que pode ser colhido, e não precisa ser plantado para ser fornecido para a Coca Cola. Assim temos a garantia da conservação ambiental”.

 O projeto, denominado Coletivo Floresta, tem valor compartilhado, uma vez que gera mais renda para as famílias do território, ao mesmo tempo que preserva a floresta em pé e o fornece matéria prima com um selo ambiental para a empresa.

 Além da geração da renda e emprego para mais de 700 famílias, o projeto também trouxe desenvolvimento em outras áreas, como saneamento e empoderamento feminino. Para esses temas que não estão diretamente ligados às cadeias produtivas sustentáveis, foram criados espaços de participação democrática na comunidade. Esses espaços se tornaram o “Fórum de Gestão do Território do Médio Juruá”, que busca trazer representatividade aos atores locais.

 Atualmente a Coca Cola não utiliza mais o açaí como matéria-prima, mas a cadeia é autossustentável, ou seja, não depende da empresa. A região conta com uma pequena indústria de processamento, a Açaí Tupã, que está inclusive pronta para exportar o produto.

“A sustentabilidade é o ideal de um projeto social, pois não gera dependência. Muito pelo contrário, gera autonomia para a comunidade andar com as próprias pernas.”

 

Replicação do projeto para a cadeia do guaraná

Os aprendizados na cadeia do açaí estão sendo utilizados para alavancar e acelerar a cadeia do guaraná no projeto Olhos da Floresta. Flávia aponta que uma diferença entre os projetos é que “o guaraná não é extrativista, ou seja, precisa ser plantado”. Para que não haja desmatamento associado, a empresa tem uma parceria com o Imaflora, que capacita as comunidades a utilizarem o sistema agroflorestal no plantio do guaraná.

A empresa compra guaraná de 11 diferentes municípios, com uma rastreabilidade que os produtos fornecidos são da região. “100% do guaraná utilizado nos nossos produtos é produzido em cadeias sustentáveis”, destaca Flávia. Além da compra do guaraná das comunidades, a empresa também tem produção própria.

Flávia ainda destacou as frentes de atuação no tema água, com a estratégia denominada “Água+”. A água é o principal insumo das bebidas produzidas pela empresa e por isso também tem projetos de valor compartilhado.

Um dos trabalhos busca maior eficiência de utilização da água nas fábricas, sendo o principal indicador a quantidade de água utilizada para cada litro de bebida produzido. Outro pilar é o de maior acesso à água. “Quando pensamos em escassez de água, o primeiro local lembrado é o Nordeste, mas o Amazonas também sofre com o acesso à água potável, principalmente pela falta de saneamento básico.” A empresa trabalha, por exemplo, com tratamento de efluentes em comunidades isoladas e com a criação de sistemas de bombeamento da água dos igarapés a partir da energia solar. 

Por fim, a empresa busca trazer mais disponibilidade de água, garantindo a preservação das bacias hidrográficas no longo prazo. Especificamente na Amazônia, a empresa tem uma parceria de conservação da floresta em pé com a Fundação Amazônia Sustentável (FAS), atuando em uma área equivalente a 100 mil campos de futebol, conseguindo devolver à natureza a água utilizada nos processos produtivos da empresa. A Coca Cola Brasil inclusive é um dos patrocinadores fundadores da FAS. Há 10 anos, a empresa contribuiu para a criação de um fundo, cuja rentabilidade é revertida para o “Bolsa Floresta”, destinado a famílias que conservam a floresta em pé, por exemplo, por meio de atividades voltadas para o ecoturismo.

 

Adesão à Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA)

Apesar dos resultados significativos dos projetos realizados pela empresa, Flávia ressalta a importância de participar da PPA.“A Amazônia tem um papel estratégico no ciclo hídrico, no bioma e na biodiversidade do Brasil e do mundo. Se a Amazônia fosse um país, seria o 16º maior do mundo em extensão territorial”, destaca.

Como os desafios são enormes, a gerente destaca a importância de atuar em rede para alcançar escala. “Nós podemos atuar sozinhos, mas atuando sozinhos teremos uma atuação e um impacto limitado.” Flávia destaca que o nome ”Parceiros” já apresenta grande parte da solução, uma vez que envolve a formação de uma rede em busca de soluções e oportunidades, além de envolver também atores especialistas na região e favorecer a troca de conhecimentos para melhorias. “É importante empoderar as instituições locais, que já atuam na região e têm o conhecimento e aprendizados de anos de atuação. Assim, conseguimos acelerar agenda de sustentabilidade na Amazônia.”.

 

Principal aprendizado

Por fim, Flávia destaca que um dos principais aprendizados na realização de projetos na Amazônia é o diálogo. “Às vezes uma empresa tem uma boa intenção de ajudar um território e acredita que tem soluções, mas só quem vive na comunidade realmente conhece as mazelas, oportunidades e desafios locais. Por isso, a construção precisa ser conjunta”.

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