{"id":12920,"date":"2017-05-22T14:01:09","date_gmt":"2017-05-22T17:01:09","guid":{"rendered":"http:\/\/www.idesam.org.br\/?p=10374"},"modified":"2020-12-22T18:33:50","modified_gmt":"2020-12-22T21:33:50","slug":"florestas-em-pe-sao-um-bom-negocio-para-todos","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/idesam.org\/florestas-em-pe-sao-um-bom-negocio-para-todos\/","title":{"rendered":"Florestas em p\u00e9 s\u00e3o um bom neg\u00f3cio para todos"},"content":{"rendered":"

Por Pedro Moura Costa e Mariano Cenamo*<\/i><\/span>
\nPublicado originalmente no Valor Econ\u00f4mico<\/a><\/i><\/span><\/p>\n

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Desde o Acordo de Paris, a urg\u00eancia em combater as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas desencadeou uma corrida global para reduzir a emiss\u00e3o de gases de efeito estufa (GEE). Setores intensivamente emissores \u2014 como industrial, energ\u00e9tico, agr\u00edcola e de transportes \u2014 t\u00eam o desafio de descarbonizar sua produ\u00e7\u00e3o. Dados os custos associados \u00e0 tal transi\u00e7\u00e3o, esses setores olham com simpatia a possibilidade de usar investimentos no setor florestal como forma de compensa\u00e7\u00e3o de emiss\u00f5es, enquanto avan\u00e7am na necess\u00e1ria altera\u00e7\u00e3o de processos produtivos.<\/p>\n

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Trata-se de uma oportunidade e de um desafio para o Brasil, com seu grande potencial de diminuir GEE pela redu\u00e7\u00e3o do desmatamento. Entre 2006 e 2014, a redu\u00e7\u00e3o localizada na Amaz\u00f4nia evitou que mais de 5 bilh\u00f5es de toneladas de CO2 chegassem \u00e0 atmosfera \u2014 iniciativa que criou, talvez, a maior contribui\u00e7\u00e3o mundial na emiss\u00e3o de GEE at\u00e9 hoje. Para manter essa lideran\u00e7a, o pa\u00eds precisa aplicar no uso planejado e sustent\u00e1vel dos recursos florestais. Estima-se que o valor para se atingir as metas nacionais no Acordo de Paris gire em torno de US$ 26 bilh\u00f5es at\u00e9 2030.<\/p>\n

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Uma oportunidade concreta \u00e9 o REDD+ (Redu\u00e7\u00e3o de Emiss\u00f5es por Desmatamento e Degrada\u00e7\u00e3o Florestal), mecanismo que permite compensar emiss\u00f5es garantindo que florestas permane\u00e7am em p\u00e9. Com acesso aos incentivos financeiros criados pela inclus\u00e3o do REDD+ em mercados internacionais, estima-se que iniciativas brasileiras nessa modalidade possam gerar redu\u00e7\u00f5es em torno de 5,8 GtCO2 al\u00e9m dos compromissos nacionais no Acordo de Paris. Usando a curva de pre\u00e7os futuros de carbono, projetados pela organiza\u00e7\u00e3o americana Environmental Defense Fund, esse excedente resultaria em capta\u00e7\u00f5es de mais de US$ 70 bilh\u00f5es at\u00e9 2030.<\/p>\n

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O governo federal, no entanto, ainda reluta em permitir que projetos de REDD+ sejam utilizados em territ\u00f3rio brasileiro. No cen\u00e1rio global, essa rejei\u00e7\u00e3o onera os setores n\u00e3o-florestais \u2014 industrial, energ\u00e9tico, agr\u00edcola e de transportes \u2014, que se ver\u00e3o obrigados a transforma\u00e7\u00f5es agressivas e, em alguns casos, irrealiz\u00e1veis no curto prazo, para compensar emiss\u00f5es.<\/p>\n

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Internamente, subtrai do setor florestal recursos fundamentais a seu pleno desenvolvimento, provocando consequ\u00eancias nefastas, como intensifica\u00e7\u00e3o do desmatamento; fragiliza\u00e7\u00e3o das parcerias com doadores tradicionais, a exemplo de Alemanha e Noruega; e comprometimento da capacidade de arcar com as metas assumidas em Paris. O desmatamento j\u00e1 voltou a crescer nos dois \u00faltimos anos (24% em 2015 e 29% em 2016), combinando-se com uma grave crise econ\u00f4mica \u2014 o PIB da regi\u00e3o amaz\u00f4nica despencou muito al\u00e9m da m\u00e9dia nacional (-3,8%), com extremos como Amazonas (-9,1%), Amap\u00e1 (-6,2%) e Tocantins (-5,2%). Refletindo a fragiliza\u00e7\u00e3o da economia, o or\u00e7amento do Minist\u00e9rio do Meio Ambiente sofreu um corte de 51% em rela\u00e7\u00e3o ao ano passado. Ent\u00e3o, de onde sair\u00e3o os recursos para sustentar uma performance antidesmatamento nos patamares de 2006 a 2014?<\/p>\n

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A hesita\u00e7\u00e3o do governo federal apoia-se em argumentos t\u00e9cnicos j\u00e1 superados por avan\u00e7os nos sistemas de monitoramento de GEE, como o Prodes (que realiza sensoriamento remoto por sat\u00e9lites do desmatamento por corte raso na Amaz\u00f4nia Legal desde 1988), e na defini\u00e7\u00e3o de padr\u00f5es internacionais para desenvolvimento e verifica\u00e7\u00e3o dos projetos.<\/p>\n

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No entanto, preocupa\u00e7\u00f5es mercadol\u00f3gicas permanecem v\u00e1lidas, frente a um potencial desequil\u00edbrio entre oferta e demanda, causado pela inclus\u00e3o do REDD+ num mercado \u00fanico de carbono. Pelo lado da oferta, o setor de uso do solo possui imenso potencial de gerar vastos volumes de redu\u00e7\u00f5es de GEE a custos relativamente baixos, saturando os mercados com cr\u00e9ditos florestais. Pelo lado da demanda, a aus\u00eancia de acordos internacionais, determinando metas de redu\u00e7\u00e3o de emiss\u00f5es mais ambiciosas por parte de pa\u00edses e setores produtivos, limita a procura por cr\u00e9ditos de carbono (os chamados offsets<\/i>).<\/p>\n

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A solu\u00e7\u00e3o desse impasse foi foco recente da Alian\u00e7a REDD+ Brasil, composta por representantes de diferentes organiza\u00e7\u00f5es sociais, iniciativa privada e academia. O resultado \u00e9 uma recomenda\u00e7\u00e3o ao governo brasileiro para ado\u00e7\u00e3o e defesa de um sistema de mercado respons\u00e1vel, chamado de REDD Integrado.<\/p>\n

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A proposta tem dois pilares de sustenta\u00e7\u00e3o. O primeiro, de abrang\u00eancia internacional, \u00e9 a cria\u00e7\u00e3o de um novo mercado de cr\u00e9ditos de REDD+, distinto, mas complementar aos hoje estabelecidos, de modo a n\u00e3o afetar negativamente a rela\u00e7\u00e3o de pre\u00e7os de outras op\u00e7\u00f5es de mitiga\u00e7\u00e3o. Assim, os cr\u00e9ditos de carbono em setores n\u00e3o florestais coexistiriam com os de redu\u00e7\u00e3o de emiss\u00f5es por REDD+. O crit\u00e9rio para acessar esse novo mercado seria a obriga\u00e7\u00e3o de suplementaridade. Somente ap\u00f3s atingir um certo n\u00edvel de descarboniza\u00e7\u00e3o por atividades n\u00e3o florestais (substitui\u00e7\u00e3o de combust\u00edveis, melhora de matriz energ\u00e9tica etc.), pa\u00edses ou empresas poderiam acessar cr\u00e9ditos de REDD+ a fim de suplementar seus compromissos.<\/p>\n

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O segundo pilar se concretiza no n\u00edvel dom\u00e9stico, com as iniciativas de REDD+ contribuindo ativamente para o cumprimento do conjunto das metas brasileiras no Acordo de Paris. Nesse sistema de mercado respons\u00e1vel, os investimentos atra\u00eddos pelo REDD+ seriam alocados em igual propor\u00e7\u00e3o na prote\u00e7\u00e3o de florestas e em atividades complementares, relacionadas ao uso sustent\u00e1vel do solo, como intensifica\u00e7\u00e3o de agricultura e pecu\u00e1ria de baixo carbono ou reflorestamento de bacias hidrogr\u00e1ficas e \u00e1reas de preserva\u00e7\u00e3o permanente.<\/p>\n

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Assim, o ganho por redu\u00e7\u00e3o de emiss\u00f5es contribuiria para uma estrat\u00e9gia integrada de prote\u00e7\u00e3o florestal, produ\u00e7\u00e3o agropecu\u00e1ria e descarboniza\u00e7\u00e3o da economia. Da\u00ed, a denomina\u00e7\u00e3o: REDD Integrado. A separa\u00e7\u00e3o de mercados evitaria a press\u00e3o sobre os pre\u00e7os de outras op\u00e7\u00f5es de mitiga\u00e7\u00e3o e, internamente, as capta\u00e7\u00f5es feitas liberariam recursos p\u00fablicos destinados ao controle do desmatamento para investimento em pesquisa e inova\u00e7\u00e3o em outros setores econ\u00f4micos. Sem falar no benef\u00edcio clim\u00e1tico imediato, assegurado pela prote\u00e7\u00e3o e conserva\u00e7\u00e3o de nossas florestas.<\/p>\n

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Na economia de baixo carbono, florestas s\u00e3o ativos valiosos e podem financiar o desenvolvimento sustent\u00e1vel. O Brasil \u00e9 l\u00edder na redu\u00e7\u00e3o de emiss\u00f5es e tem o dever de promover internacionalmente a inclus\u00e3o do REDD+ em mercados integrados e suplementares. O mundo j\u00e1 se movimenta nesse sentido, por isso, a hora de agir \u00e9 agora.<\/p>\n

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*Pedro Moura Costa \u00e9 presidente do Instituto BVRio, pesquisador honor\u00e1rio da Universidade de Oxford e detentor de um Nobel da Paz por estudos de mudan\u00e7as clim\u00e1ticas. Mariano Cenamo \u00e9 pesquisador s\u00eanior e cofundador do Instituto de Conserva\u00e7\u00e3o e Desenvolvimento Sustent\u00e1vel da Amaz\u00f4nia (Idesam)<\/em><\/span><\/i><\/p>\n

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Por Pedro Moura Costa e Mariano Cenamo* Publicado originalmente no Valor Econ\u00f4mico Desde o Acordo de Paris, a urg\u00eancia em combater as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas desencadeou uma corrida global para reduzir a emiss\u00e3o de gases de efeito estufa (GEE). Setores intensivamente emissores \u2014 como industrial, energ\u00e9tico, agr\u00edcola e de transportes \u2014 t\u00eam o desafio de descarbonizar […]<\/p>\n","protected":false},"author":3,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[132,50],"tags":[56],"acf":[],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/idesam.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/12920"}],"collection":[{"href":"https:\/\/idesam.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/idesam.org\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/idesam.org\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/idesam.org\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=12920"}],"version-history":[{"count":1,"href":"https:\/\/idesam.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/12920\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":22088,"href":"https:\/\/idesam.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/12920\/revisions\/22088"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/idesam.org\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=12920"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/idesam.org\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=12920"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/idesam.org\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=12920"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}