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Aparelho barato oferece ajuda no combate a grande incêndio

Aparelho barato oferece ajuda no combate a grande incêndio

Por Mônica Prestes, publicado originalmente na Folha de São Paulo
Foto: Divulgação/Arquivo Aliança Apuí

Tecnologia desenvolvida por pesquisadores da UEA (Universidade do Estado do Amazonas), em Manaus, promete aumentar a eficácia e reduzir em mais de 80% o custo dos equipamentos de monitoramento de queimadas usados por brigadistas no combate a grandes focos de incêndios florestais. Em 2020, houve recorde de incêndios na Amazônia e no Pantanal.

A pesquisa é desenvolvida no Laboratório de Ecologia Geral da instituição. Com cerca de 450 gramas e do tamanho de um celular, o equipamento reúne sensores que medem a velocidade e direção do vento, umidade do ar, temperatura e direção das chamas, além de permitir a acoplagem opcional de uma câmera termográfica. A transmissão é em tempo real para computador ou smartphone. O tamanho permite que seja levado na mão ou preso a mastro, torre ou drone.

A proposta dos pesquisadores é tornar o equipamento mais barato e acessível a brigadistas de pequenos municípios, associações comunitárias e instituições de pesquisa ou não-governamentais. “A política ambiental está sofrendo desmonte, com cortes sistemáticos de recursos, então temos que oferecer ferramenta que seja acessível também financeiramente nessa nova realidade”, disse o coordenador do projeto, Jair Maia.

Além de Maia, fazem parte da iniciativa dois engenheiros de software, engenheiro de hardware e meteorologista. A ideia é entregar um equipamento prático e acessível que permita aos profissionais que estão em campo, no combate ao fogo, uma tomada de decisão mais rápida e baseada em informações técnicas precisas que, muitas vezes, levam tempo para serem reunidas e analisadas.

“Quanto antes eles tiverem essas informações em mãos, maiores as chances de sucesso. Isso pode reduzir não só o ritmo de propagação dos incêndios, como os riscos de acidentes com os brigadistas”, afirmou Maia, que é biólogo e doutor em ecologia do fogo. A ideia, conta Maia, é ajudar a construir uma base de dados para identificar o perfil das queimadas em cada região, facilitando a construção de estratégias de combate às chamas.

“Com o passar do tempo, esses dados nos permitirão criar um mapa e identificar onde será melhor investir os recursos para agir de forma preventiva. O protótipo inclui um aplicativo para celular e um repositório web que vai concentrar esses dados, transmitir para a base de dados da instituição e ajudar na leitura deles”, explicou. As pesquisas, que iniciaram há cerca de um ano, sofreram atraso por causa da pandemia de Covid-19, que atrasou a chegada de parte dos insumos, importados.

O projeto está na fase final de confecção dos três protótipos, que poderão ser usados em campo a partir do segundo semestre de 2021 e deverão custar menos de R$ 10 mil, afirma o professor Maia. “Bem menos que os equipamentos com funções semelhantes disponíveis no mercado, que custam de R$ 70 a R$ 145 mil, um valor inviável para a maioria das brigadas de incêndio comunitárias, de ONGs ou pequenos municípios da Amazônia”, relatou.

Justamente devido ao público-alvo, outro desafio é ser de fácil manuseio por ribeirinhos, indígenas e pessoas sem conhecimento técnico, diz Maia. “A ideia é democratizar o acesso à tecnologia de combate ao fogo.” O projeto custou, até agora, pouco mais de R$ 90 mil, arrecadados com uma empresa privada, por meio do PPBio (Programa Prioritário em Bioeconomia), da Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus), conta Carlos Koury, diretor-técnico do Idesam (Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas), ONG responsável pela gestão do PPBio.

“O programa foi desenvolvido para conectar pesquisadores e empresas investidoras”, explica Koury. O PPBio é um dos programas prioritários criados para o aporte de parte dos investimentos em P&D provenientes da Lei de Informática junto às empresas da ZFM (Zona Franca de Manaus), que precisam destinar 5% de seu faturamento anual à pesquisa, desenvolvimento e inovação.

A estimativa é que os primeiros protótipos estejam prontos para os testes iniciais em janeiro de 2021. Os testes devem ser realizados em Manaus, Brasília e no sul do Amazonas, principal foco de desmatamento no estado, que em 2020 atingiu o maior número de focos de queimadas em 22 anos, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). O Inpe registrou 16.729 focos de queimada em 2020 no Amazonas, cerca de 32% mais que o total registrado em 2019.

Os números de 2020 superam também o recorde histórico de queimadas no estado, que era de 15.644 focos, ocorrido em 2005. Em toda a Amazônia, o número de focos de queimadas chegou a 103.161, em 2020, superando os 89.176 focos registrados de janeiro a 31 de dezembro de 2019. No Pantanal, o número de focos de queimada também bateu recorde em 2020: foram 22.116, mais do que o dobro do registrado em todo o ano de 2019 (10.025 focos) e bem acima do recorde histórico da região, que era de 2005, quando foram registrados 12.536 focos de queimadas no bioma.

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