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Terras Indígenas preservadas há mais de 10 anos aparecem no mapa do desmatamento pela primeira vez em 2020

Terras Indígenas preservadas há mais de 10 anos aparecem no mapa do desmatamento pela primeira vez em 2020

Dados foram analisados pelo Observatório da BR-319, com informações do INPE, e divulgados no mais recente informativo, lançado no dia 31 de agosto

Por Comunicação Observatório BR-319
Foto: Arquivo Idesam/Divulgação

Manaus, 31/08/2020 – Terras indígenas sem histórico de desmatamento apresentaram, pela primeira vez em 10 anos, áreas de floresta derrubada, é o que aponta o boletim de monitoramento do Observatório da BR-319, divulgado esta semana. Essas TI são monitoradas desde 2010, e até então estavam intactas. Esse desmatamento inédito preocupa pesquisadores e lideranças indígenas.

Quatro TIs tiveram essa característica: TI Alto Sepatini (Lábrea) TI Paumari do Cuniuá (Tapauá), TI Paumari do Lago Manissuã (Tapauá) e TI Setemã (Borba, Novo Aripuanã). Somado, o desmatamento nas quatro terras indígenas foi de pouco mais de 9 hectares, mas, apesar de incipiente, esse desmatamento representa uma modificação no comportamento do desmatamento nessas TIs, não sendo possível identificar ainda se essa é uma modificação permanente ou pontual.

“Esse registro é inédito desde o início do monitoramento dessas áreas, em janeiro de 2010, então é correto dizer que essas terras estavam preservadas há pelo menos 10 anos e agora apareceram no mapa de desmatamento, devendo ser um foco de atenção nos monitoramentos dos próximos meses” destacou Paula Guarido, pesquisadora que acompanha e analisa os dados coletados através do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE.

Se essa perda florestal se expandir, pode representar uma ameaça para mais de 400 indígenas que vivem nas quatro TIs, representantes das etnias Apurinã, Paumari e Mura.

De acordo com as lideranças indígenas contatadas pela equipe do Observatório, a ação de agentes externos e a falta de fiscalização são os principais motivos não só para o crescimento dos índices, mas para a inclusão dessas novas áreas antes conservadas. 

“Desde março de 2020, quando começou a pandemia, o desmatamento aqui na região vem aumentando por conta das invasões das Terras Indígenas. Nós ficamos à mercê dos invasores. Estamos totalmente abandonados pelos órgãos de gestão. Não há fiscalização” disse Nilcélio Jiahui, liderança indígena e membro da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).

Outro motivo para a preocupação é que, na Amazônia, os desmatamentos quase sempre antecedem as grandes queimadas. Ou seja, uma alta no índice de desmatamento vem seguida de uma alta também nos índices de focos de calor, queimadas e incêndios florestais.

Até final de julho, onze das 69 TI monitoradas pelo Observatório da BR-319 apresentaram focos de calor. A TI Coatá-Laranjal (Borba) liderou o número de focos de calor em julho, com 13 focos, seguida pela TI Tenharim Marmelos (Gleba B) e pela TI Tenharim/Marmelos (Humaitá/Manicoré), que apresentaram oito e cinco focos, respectivamente. Esse número deve crescer até final de agosto, que historicamente tem índices maiores de focos de calor.

Os dados completos do monitoramento de desmatamento e queimadas estão no informativo do Observatório da BR-319, disponível em www.observatoriobr319.org.br. Os interessados em recebê-lo mensalmente por e-mail também pode se cadastrar em: bit.ly/br-319

O Observatório BR-319 é formado pelo Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), Fundação Amazonas Sustentável (FAS), Fundação Vitória Amazônica (FVA), Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Wildlife Conservation Society (WCS) e o WWF-Brasil.

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