Dia 2 – Financiamento e entraves para a Bioeconomia e Tecnologia na Amazônia reúne investidores e organizações públicas na ExpoAmazônia
Fotos: Kyko Sanches
Projetos inovadores, soluções para gargalos da bioeconomia são o caminho para uma redução de desigualdade aliada à floresta em pé. Mas como financiar tudo isso e, principalmente, qual o caminho da aplicação de recursos para viabilizar impactos efetivos?
Essa foi a proposta de debate da mesa “Fundos de investimento para o desenvolvimento sustentável – Oportunidades de Inovação na Amazônia”, programação do palco principal da ExpoAmazônia Bio&TIC, durante o segundo dia de evento.
A GIZ, empresa pública que opera convênios com governos para acesso ao crédito do banco alemão KFW, apresentou como case, o projeto de formação de uma Rede de Agentes de Crédito Local, que conta com 17 organizações de base parceiras. A iniciativa surgiu a partir da identificação da dificuldade de acesso ao crédito por parte de pequenos e médio produtores, principalmente os que estão ligados a associações e à cadeia dos produtos da sociobiodiversidade. Por meio da formação técnica e qualificação em educação financeira de representantes dessas organizações, o projeto já viabilizou 448 contratos de crédito ativados e pouco mais de R$ 2 milhões financiados, segundo afirmou o representante da Agência de Cooperação Técnica Alemã (GIZ), Carlos Demeterco.
O representante da Agência de Fomento do Estado do Amazonas (Afeam), Kirk Douglas de Lima Bentes, anunciou uma nova linha de crédito para 2024, voltada a empresas de inovação: o Crédito + Inovação foi pensado para o desenvolvimento e produção de novos produtos, processos e serviços com caráter inovador ou aperfeiçoamento de sistemas. A novidade pretende movimentar o ecossistema. De 2019 a 2022, a agência de fomento local investiu R$ 572 milhões nas atividades produtivas dos setores primário e terciário.
Já o Banco da Amazônia (Basa) trouxe para o debate o exemplo da dificuldade de financiar mais produtores por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), recurso do Governo Federal, por falta de assistência técnica a pequenos produtores. O recurso acaba sendo acessado por setores que contam com maior estrutura de assistência ao produtor rural, segundo o gerente geral do banco, Frank Okamura. Ele ressaltou que a instituição financeira adota critérios técnicos de análise para concessão do financiamento que se baseiam em medidas regulatórias do setor como a regularidade do Cadastro Ambiental Rural (CAR) CAR e o índice de desmatamento da área que é checado via dados do Prodes, sistema de monitoramento por satélites do Governo Federal responsável por auferir o desmatamento por corte raso na Amazônia Legal.
Já a gerente de projetos sênior na Partnership for Forests (P4F), Barbara Ferreira, reforçou que a iniciativa atua em projetos que auxiliem os produtores justamente com a assistência técnica, justamente por entender a necessidade de qualificar a sustentabilidade do modelo a longo prazo. O P4F é um programa financiado pelo Governo do Reino Unido para acelerar iniciativas sustentáveis das cadeias de valor.
O diretor executivo do Idesam, André Vianna, responsável pela mediação do debate, destacou que xxx
Como destravar?
O painel de abertura do segundo dia da ExpoAmazônia Bio&TIC trouxe representantes do Ministério de Meio Ambiente e da Secretaria de Economia Verde do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, alem da Associação Brasileira de Bioinovação, da FAS e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) para fazer o exercício de pensar sobre o que falta para destravar o fomento a uma nova economia na Amazônia a partir de diretrizes governamentais.
De acordo com a diretora do Departamento de Políticas de Estímulo à Bioeconomia do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Bruna De Vita, o tema ‘bioeconomia’ está presente hoje em 17 ministérios do Governo Federa, o que representa um avanço da agenda em termos de diretrizes governamentais. “Pensar a bioeconomia em um país tão diverso quanto o Brasil é um desafio. Trazer valor agregado às cadeias produtivas pode fazer o diferencial do Brasil na nova economia a partir da Amazônia”, afirmou.
A Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), instituição formada por empresas que investe em pesquisa e inovação para o desenvolvimento da inovação na indústria brasileira, entende que o investimento em tecnologia verde é um dos caminhos para destravar a bioeconomia. De acordo com o gerente de Mobilização Empresarial da organização, José Menezes, em dez anos, foram investidos R$ 537 milhões em pesquisa e desenvolvimento em inovação. “Sabemos que o investimento em inovação gera mais e melhores empregos, gera patentes e contribui fortemente para o desenvolvimento do País”.
O diretor de Inovação em Bioeconomia do Idesam, Carlos Kouory, responsável pela mediação do tema, trouxe algumas provocações para o debate como, por exemplo, qual o caminho para encurtar a aceleração de empreendimentos comunitários.
O gerente de Empreendedorismo e Negócios Sustentáveis da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Wildney Mourão, trouxe o exemplo da aceleradora da instituição, que trabalha com essas organizações de base e pontuou que é necessário investimento em comunicação e energia como principais gargalos a serem superados.
Márcio Gallo, representante do MDIC, pontuou que estimular as cadeias de valor, de forma que se tenha produção o ano todo e atenda a indústria, é uma das chaves. Além disso, trouxe a importância de se definir um ‘selo amazônico’, que está em consulta no momento, para fazer com que os produtos cheguem ao mercado com a valoração dessa chancela.
Thiago Falda, da Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI), que congrega 23 empresas de diversos setores, ressaltou que a bioeconomia pode ser aplicada em todos os setores da economia, e a associação é a prova disso. A bioeconomia é multissetorial, é transversal. As associadas representam mais de 400 milhões do PIB brasileiro mais de 200 mil empregos no País.
“Chegamos num momento em que a pauta ambiental vira oportunidade de negócios. Os cinco maiores riscos à economia são questões ambientais. É preciso insumos para deslanchar. O brasil tem experiência fabulosa em energia, agricultura que fornece resíduos e temos 25% da biodiversidade global. A gente encontra todos os caminhos para desenvolver qualquer produto a partir da bioinovação, mas precisamos reduzir o custo para empreender no País, criar um ecossistema de inovação que permita a relação entre universidades e empresas, financiamento e, no caso da Amazônia, os desafios logísticos, de infraestrutura para sair da atividade só coletora e colocar inovação”, afirmou.
Sobre
A ExpoAmazônia Bio&TIC 2023 é uma realização da Associação do Polo Digital de Manaus (APDM), Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), Governo do Amazonas – por meio da Secretaria de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti-AM) -, Prefeitura de Manaus – por meio da Secretaria Municipal do Trabalho, Empreendedorismo e Inovação (Semtepi) e Centro de Bionegócios da Amazônia (CBA).
Além de discutir, integrar, consolidar e alavancar os polos de Bioeconomia e de Tecnologia da Informação e Comunicação da região como dois vetores econômicos viáveis e sustentáveis para a manutenção da floresta amazônica e para o desenvolvimento socioeconômico dos povos da Amazônia, a feira visa fortalecer os ecossistemas de Bio&TIC e integrá-los constantemente com os atores dos ecossistemas nacionais e internacionais de inovação.
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