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Oficina de artesanato em Tapauá: capacitação para o futuro como forma de resgatar a ancestralidade

Oficina de artesanato em Tapauá: capacitação para o futuro como forma de resgatar a ancestralidade

Texto: Omar Gusmão – Up Comunicação Inteligente
Foto: Robson Costa

Associação de Mulheres Indígenas Artesãs de Tapauá e Idesam promovem oficina de artesanato na Aldeia Santo Agostinho, em Tapauá 

Com o objetivo de resgatar as práticas ancestrais de confecção por meio do aprendizado de novas técnicas de artesanato e, ainda, gerar renda, a Associação de Mulheres Indígenas Artesãs de Tapauá (Amiata) e o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam) promovem, de 2 a 5 de maio, na Aldeia Santo Agostinho, em Tapauá (a 448 quilômetros de Manaus), a 1ª Oficina de Artesanato Indígena da Amiata. 

Oficina de Artesanato. Foto: Robson Costa

Para a presidente da Amiata, Francinete Apurinã, a realização da oficina de artesanato é uma forma de se preparar para o futuro. “Nós estamos pensando agora, de olho no futuro, daqui pra frente. Pensando nos nossos netos. Por isso, nós estamos fazendo isso. Esse é nosso pensamento, nosso sonho”, afirma Francinete. 

A presidente da Amiata enxerga no aprendizado de novas técnicas uma forma de fortalecer as práticas ancestrais de artesanato de seu povo. “A instrutora vai ensinar aquilo que ainda nós não sabemos. Cesto nós sabemos fazer. Eu sei ainda, é minha cultura. A peneira, o paneiro, eu também sei fazer. Quero aprender o resto, o que eu não sei. Joia, colar, pulseira eu sei fazer também. Aí, ela vem ensinar outro tipo de pulseira, outro tipo de colar, que a gente não sabe fazer”, afirma Francinete. 

Sandra Batista do Amaral, vice-presidente da Amiata, vê na realização da oficina de artesanato uma oportunidade de profissionalização das mulheres indígenas. “A gente está buscando se especializar, para nós fazermos coisas bem profissionais. Então, no nosso futuro, vamos ver as mulheres formadas em artesanato, produzindo e investindo mesmo. E esse é o nosso objetivo”, afirma Sandra. 

A vice-presidente da Amiata também acredita que, com a realização da oficina, a associação mostra que está aproveitando as oportunidades que vêm surgindo desde que o projeto Governança Socioambiental Tapauá, do Idesam, chegou ao município e passou a dar apoio às associações comunitárias e indígenas locais. 

“Hoje, a gente está em caminhada, e o nosso plano é evoluir, o nosso plano, no futuro é estar investindo, buscando mais recursos, para a gente estar trabalhando, não parar por aqui, aproveitar a oportunidade que o Idesam está nos dando. Vocês chegaram e nos disseram: ‘vocês têm potencial, vamos levantar’, e a gente hoje está bem encaminhada, graças a Deus, e nosso plano é esse, seguir adiante, não desistir”, declara Sandra. 

A instrutora da oficina de artesanato, Roberta Guimbardi Franco, levada de Manaus a Tapauá para ministrar o curso, está em sintonia com o objetivo das artesãs indígenas. “O resgate da ancestralidade é o objetivo do curso. E o aprimoramento dessas técnicas também. Introdução de acabamento, por exemplo, que é uma das coisas primordiais no artesanato. Uma boa venda precisa ter um produto de boa qualidade, com acabamento, com as cores corretas. Os insumos de maneira colorida, harmoniosa. Tudo isso é importante para um bom desempenho nas vendas, porque o objetivo maior é gerar renda entre elas e resgatar a ancestralidade”, afirma Roberta. 

A instrutora tem vasta experiência na área. Trabalhou como professora do Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (Cetam) desde 2011. É instrutora de várias instituições, entre elas, o Cetam, o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Amazonas (Idam) e a Fundação Bradesco. “Ministro aulas interior afora. E aqui vai ser uma oficina de três dias. De artesanato, com capacitação para as artesãs nessa comunidade aqui perto de Tapauá”, explica. 

Sobre o projeto 

A Amiata está inserida em um contexto cultural diverso, pois abrange duas Terras Indígenas, Apurinã Igarapé Tauamirim e Apurinã do Igarapé São João, e 13 aldeias do município de Tapauá, englobando dois povos indígenas: Apurinã e Paumari. Os moradores das aldeias da TI São João que se encontram próximas da cidade de Tapauá, realizam trabalhos tanto na aldeia como na cidade. Já os parentes das aldeias mais distantes, trabalham com atividades relacionadas diretamente a seus territórios. As duas terras indígenas são bastante conservadas e produtivas, apesar da proximidade com a cidade de Tapauá. Os territórios são muito ricos e diversos, e apresentam ambientes adequados para a agricultura, o extrativismo e a caça. Assim, a Amiata tem o objetivo melhorar a qualidade de vida de suas associadas e promover a valorização cultural através do trabalho artesanal com matéria-prima sustentável coletada em florestas do território. Sua missão é valorizar o território, a identidade e o protagonismo das mulheres indígenas do município de Tapauá.  

A oficina de artesanato é financiada pela chamada “Fortalecendo a Autonomia e Resiliência dos Povos das Florestas”, do Fundo Casa Socioambiental, que tem o objetivo de fortalecer a autonomia e a resiliência dos povos da floresta para garantir o essencial para o futuro da humanidade. Esta chamada é parte da iniciativa Alianza Fondos del Sur, que une organizações que criaram mecanismos de distribuição de recursos financeiros e ferramentas de fortalecimento de capacidades na América Latina, África e Sudeste Asiático. 

 

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