UNESCO e Idesam visitam 1ª iniciativa apoiada pelo projeto ‘Reserva da Biosfera da Amazônia Central’, na RDS Uatumã
A iniciativa já beneficiou pelo menos 2.500 pessoas, já envolveu 2.8 milhões de hectares de florestas, 11 organizações sociais
Por Comunicação UNESCO / Fotos: Eberth Santana-UNESCO
O projeto UNESCO Reservas da Biosfera da Amazônia apoiado pela LVMH tem como um dos objetivos apoiar práticas sustentáveis no território com especial atenção à garantia de oportunidades de geração de renda que valoriza a floresta em pé sem desmatamento, através do apoio às iniciativas que complementam os planos e programas de gestão já existentes para conservação e uso sustentável, medidas de adaptação e mitigação, e esforços de restauração na Reserva da Biosfera da Amazônia Central.
O Idesam e a UNESCO têm atuação com projetos complementares dentro da Reserva da Biosfera da Amazônia Central. A Inatú Amazônia é uma marca que possui uma estratégia de gestão e produção coletiva protagonizada por 6 organizações sociais e com assistência técnica executada pelo Idesam. Ela nasceu por meio da parceria do Idesam com associações e empreendimento familiar do Amazonas, como resultado do Projeto Cidades Florestais, sendo uma estratégia coletiva criada para a produção e comercialização de produtos florestais amazônicos.
A iniciativa já beneficiou pelo menos 2.500 pessoas, já envolveu 2.8 milhões de hectares de florestas, 11 organizações sociais, 3 usinas de óleos vegetais e 3 planos de manejo comunitários licenciados e em operação. As associações que fazem parte da Inatu estão localizadas na região de Lábrea, Silves, Carauari, Apuí e na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã.
No mês de junho, o território leste da Reserva da Biosfera da Amazônia Central, a RDS do Uatumã, recebeu uma missão da equipe UNESCO Paris e Manaus para conhecer pessoalmente a área e as atividades que o projeto estará apoiando: A Mini Usina de Óleos Essenciais.
Recepcionados na reserva pela equipe do Idesam, representado por Marcus Biazatti, e Wanderley Cruz, gestor da mini usina de óleos do Uatumã, os representantes da UNESCO foram apresentados a todo o processo de produção, mostrando as etapas e os desafios de se produzir óleos tão preciosos dentro de uma unidade de conservação no coração da Amazônia. Esta atividade é apenas uma das diversas que os extrativistas têm como fonte de renda, no entanto, é a que paga melhor. O grupo também visitou a área de extração dos óleos essenciais, uma área manejada coletivamente pela RDS do Uatumã.
Breu (Prothium sp.): Bioeconomia e circularidade na prática
Nativo da Amazônia e abundante nas matas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã, o Breu tem potencial para ser amplamente utilizado na perfumaria e produtos de higiene, sendo empregado como aroma de perfumes e colônias e na fabricação de sabonetes, por exemplo. O limoneno, presente no óleo de breu branco, é um componente comum em fragrâncias e essências. A resina do breu branco apresenta aromas poderosos de madeira e de especiarias, que o torna um ingrediente raro e precioso, muito procurado nos cuidados para o corpo e nos perfumes.
Em estudo da análise da dinâmica do desmatamento na região de atuação da RDS do Uatumã, constatou-se que a realização das atividades produtivas por meio das boas práticas, rastreabilidade do produto e comércio justo, possibilitaram frear o desmatamento na região da RDS Uatumã, contribuindo para a conservação florestal e mitigação dos impactos de perda de biodiversidade.
“Cada etapa aqui é um ciclo. A gente tem diversas fontes de renda aqui dentro na reserva. Existem colegas que trabalham com a pesca comercial, no entanto, esse ano foi um ano em que quase os pescadores não pegaram peixe. Foi um ano muito escasso de peixe, o peixe sumiu, não sei se foi através da seca que aconteceu isso”, disse Wanderley Cruz.
A respeito do impacto da mini usina nas práticas da comunidade, Wanderley complementa: “A gente vem agregando valor aos produtos como breu, que não tinha valor antes de não ter a usina aqui. Antes eles não tinham valor no mercado, meus avós tiravam o breu e não tinha valor. Antes um comprador só pagava R$ 1,50 o quilo e hoje a associação está pagando de R$ 7,00 a R$ 8,00 reais o quilo. Então, isso já melhorou muito, né?”, reforça.
Antigamente a resina do breu só tinha valor para ser usada na calafetação de embarcações. Hoje em dia a usina conta com um grupo de 24, 25 pessoas cadastradas, que oferecem o breu, que tem o óleo extraído, e em seguida, o resíduo (o pó que sobra da extração do óleo) pode ser retirado pelo extrativista e vendido novamente para a empresa que fabrica o composto para calefação de barcos. Ou seja, o produtor ganha em dobro e é uma operação que não deixa resíduo na natureza, tudo se aproveita.
Com o crescimento da demanda, a Inatú prevê uma expansão na sua estrutura física e de produção para poder acompanhar o mercado e se consolidar como um negócio de impacto lucrativo e sustentável. O projeto UNESCO LVMH apoia a Inatu e o Idesam nessa jornada.
“A demanda aumenta e a cada ano que passa a gente recebe mais matérias-primas e a gente está ficando sem espaço para guardar esse produto. Então, a gente vai ampliar a estrutura da usina e fazer novos investimentos no maquinário para a gente dobrar essa produção por mês, além de construir um espaço para alojamento e banheiro para aumentar o conforto e comunidade dos nossos colaboradores durante a produção”, destacou Wanderley.
O Pau Rosa (Aniba roseodora)
Aldemir Queiroz é um exemplo de como a bioeconomia e a valorização dos recursos locais podem transformar vidas. Antes, explorador de Pau Rosa de forma tradicional (utilizando técnicas que levaram à quase extinção da espécie) hoje em dia é guardião do Sistema Agroflorestal (SAF) iniciado em 2010 que conta com plantio de Aniba roseodora para a colheita dos galhos e folhas para a produção do óleo essencial de Pau Rosa.
Atualmente este SAF se encontra licenciado e apto para a poda da espécie de pau-rosa, além de que novos plantios de SAF estão sendo implantados dentro da RDS Uatumã, o que garantirá a perpetuação da espécie e recomposição dela na biodiversidade da UC.
Marcus Biazatti , Líder Iniciativa Estratégica Produção Sustentável do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia – IDESAM, conta que o resgate da espécie de pau rosa na RDS Uatumã ocorrerá por meio do plantio em Sistema Agroflorestal em aproximadamente 50 ha de áreas desflorestadas nos próximos 2 anos. Áreas estas, anteriormente utilizadas pela agricultura familiar e que demonstram potencial para a implantação de SAF.
Uma vez que a Miniusina do Uatumã se expande e aumenta a demanda por produtos de alto valor agregado, novos plantios de Pau Rosa também vem com “O objetivo é recuperar áreas antropizadas por meio do resgate de espécies florestais que possam gerar renda para as famílias por meio da comercialização de galhos, folhas, resinas, sementes e óleos”, complementa Marcus.
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