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Como relacionar negócios sustentáveis com a agenda de bioeconomia?

Como relacionar negócios sustentáveis com a agenda de bioeconomia?

Iniciativas conectadas na Amazônia buscam promover a bioeconomia e a conservação da floresta através de parcerias com envolvimento comunitário. 

Texto: Imprensa / Idesam
Foto: Felipe Martins / Idesam

A Amazônia, região de destaque quanto a biodiversidade e maior floresta tropical do planeta, continua sendo alvo de desafios que vão desde o desmatamento ilegal até ciclo de pobreza, gerados por muitas variáveis. A região abriga uma riqueza incomparável, com 30 milhões de espécies animais e mais de 14 mil espécies de plantas, de acordo com dados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, o ICMBio. 

A compreensão da economia da sociobiodiversidade amazônica, praticada há milênios pelos povos da região a partir do manejo da floresta, pode ser um caminho para a construção de uma nova economia inclusiva e sustentável. O Idesam, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que atua há 19 anos na Amazônia Legal, vem buscando, por meio de sua Teoria da Mudança (TdM), criar um futuro promissor para a permanência da floresta e de seus povos, unindo agentes do ecossistema para impulsionar a bioeconomia e a conservação desse bioma.

Curso de Vigilância Territorial. Foto: Jonas Gonçalves.

Focado no envolvimento e protagonismo das comunidades locais, o Idesam trabalha pelo fortalecimento da governança territorial compartilhando   responsabilidades com todos os atores envolvidos. Nesse contexto, o Idesam desempenha um papel fundamental como articulador desse ecossistema, visando conciliar o desenvolvimento socioeconômico com a conservação das florestas amazônicas. 

André Vianna, diretor técnico do Idesam, destaca a importância dessa abordagem, afirmando que “a construção de negócios sustentáveis ligados à bioeconomia é fundamental para reverter a perda de florestas causada pelo desmatamento ilegal e pela desigualdade social”. 

Para desenvolver os negócios sustentáveis, o Idesam utiliza um ciclo de atuação, que se inicia com a estruturação de cadeias de valor sustentáveis. À medida que as ações para estruturação avançam, as iniciativas enfrentam desafios para seu desenvolvimento e ganho de escala.  

Como estratégia para superar os desafios, o Idesam promove a inovação em bioeconomia por meio do desenvolvimento de tecnologias, processos e produtos. Por fim, como forma de impulsionar e dar escala a negócios de impacto socioambiental, o Idesam acelera negócios que tem o papel no ecossistema de consumir produtos da biodiversidade e conectá-los a sociedade civil. 

A estruturação de cadeias de valor está voltada para as organizações sociais que representam as populações tradicionais que vivem na floresta. O Idesam atua prestando serviços de assessoria técnica e de gestão a organizações sociais, cooperativas e empresa familiares. Também apoia as cadeias de valor ao promover a conexão com o mercado para a comercialização de produtos. Ainda por meio de recursos filantrópicos, promove a estruturação física do processo, como a construção de usinas de óleos, movelaria e aquisição de maquinários para modernizar as atividades agroextrativistas. 

“Dentre as cadeias de valor assessoradas, destaca-se a cadeia de óleos vegetais e essenciais provenientes de extrativismo florestal, assim como, a cadeia de valor madeireira que engloba planos de manejo comunitários e objetos de madeira produzidos por movelaria comunitária”, destaca Vianna. 

Miniusina de óleos da RDS do Uatumã. Foto: Nicolas Ribas.

O ciclo de atuação do Idesam permite tanto o fortalecimento de diferentes atores do ecossistema como também o desenvolvimento das interações entre esses atores. Essa integração proporciona o envolvimento de todos os públicos, mercados, comunidades, negócios e investidores, fator considerado essencial para atingir resultados definidos pelos objetivos para o desenvolvimento sustentável (ODS), conforme explica André Vianna. 

Os resultados obtidos pelo Idesam ao longo de 19 anos de atuação na Amazônia são um exemplo inspirador de como a bioeconomia e a conservação da Amazônia andam de mãos dadas, proporcionando um futuro promissor para a região, para as populações que a habitam, e para o planeta como um todo. 

Apenas em 2022, o Idesam apoiou a conservação de 7,13 milhões de hectares de florestas tropicais; fomentou 112 cadeias de valor sustentáveis que geraram R$ 6,6 milhões em vendas ao conectar 11 organizações sociais e empresa familiar, 11 institutos de ciência e tecnologia e 55 negócios; o Idesam atuou junto a 940 famílias da Amazônia, sendo que 541 obtiveram renda de produtos da sociobiodiversidade. Ainda em 2022 foi totalizada a implantação de 152 hectares de sistemas agroflorestais implantados em Apuí e na RDS Uatumã que aliam restauração de áreas degradadas à produção agroflorestal. 

Cadeias de valor da sociobiodiversidade 

O Idesam trabalha dentro da perspectiva de aliar o saber tradicional ao conhecimento técnico, ajudando a promover cadeias produtivas de valor que remuneram de forma justa a produtores e populações agroextrativistas. O arranjo inclui ainda apoio na comercialização desses produtos, por meio de iniciativas que garantam a sustentabilidade do negócio, que é pano de fundo para manutenção da floresta viva. 

As iniciativas Café Apuí Agroflorestal, em parceria com a Amazônia Agroflorestal; e Inatú Amazônia, que tem por parceiros as organizações sociais da Amazônia; são exemplos de como é possível desenvolver e valorizar a sociobiodiversidade, através do sistema agroflorestal e do manejo sustentável.

Movelaria ILC Cavallcanti – Prêmio Empreendedor Social Folha de S. Paulo. Foto: Renato Stockler.

Professora, mulher, extrativista, empreendedora, ribeirinha, dona Elizângela Cavalcante é líder do plano de manejo da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã. 

Em todas as funções que exerço, sou grata a Deus pelas oportunidades e ao Idesam, que acreditou nossos sonhos, que apoiou nossas ideias e que trouxe projetos para que a gente continuasse morando na nossa localidade, continuasse acreditando em dias melhores e a viver com dignidade.  Hoje, na nossa RDS, temos uma miniusina de óleos, onde extraímos e comercializamos o breu; temos um plano de manejo, fazemos a extração da madeira comercializamos e extraímos renda. São 32 famílias impactadas positivamente”, afirma Cavalcante, que também é gestora da movelaria ILC Cavalcanti, que junto a outras organizações sociais integra a Inatú Amazônia. 

O trabalho do Idesam tem como estratégia fundamental desenvolver produtos de maior valor agregado, tanto para possibilitar que os recursos financeiros fiquem em maior proporção nos territórios da região amazônica, como também para reduzir custos logísticos existentes no transporte de grandes volumes. Produtos como óleos vegetais e essenciais, objetos de madeira e café orgânico são exemplos dessa estratégia. 

Café Apuí Agroflorestal. Foto: Dai Dietzmann.

O café orgânico produzido em agroflorestas de produtores familiares no município de Apuí, no Amazonas, ainda possui interessante estratégia de financiamento que combina de recursos filantrópicos, privados e de pagamentos por serviços ambientais. A iniciativa foi incida por projeto filantrópico e hoje evoluiu para essa mescla de recursos, que utiliza recursos por empréstimo para crédito de carbono das propriedades onde é cultivado o café.

Seu Jocélio de Jesus Souza, 48, que trabalha há mais de 30 anos plantando café na região de Apuí, no sul do Amazonas, explica que, por meio do Idesam, a técnica utilizada para o plantio do café mudou para o sistema agroflorestal, um mecanismo que recupera o solo e permite a produção de um café 100% orgânico e de alta qualidade. 

“Eu comecei em Rondônia, com meu pai e meu avô. Chegamos aqui e continuamos. Plantar junto com a floresta foi novo para mim. Hoje, estou querendo plantar mais açaí, em umas trilhas dentro da mata, para ter mais essa renda”, afirma. “O Idesam está sempre junto de nós, ensinando a fazer o café orgânico e isso é um prazer que eu tenho: conhecer mais amigos. Eu não conhecia os produtores Manoel e Nilson, e, numa visita técnica, eles foram lá em casa e nós fizemos a poda do café juntos. Foi bom demais!”, completou.   

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