Óleos representam essência da Amazônia na maior feira de produtos naturais da América Latina
Objetos de madeira sustentável produzidos por comunidades tradicionais também foram apresentados na NaturalTech; evento marcou estreia do óleo de breu certificado pelo FSC®
Texto: Steffanie Schmidt/Idesam
Fotos: Jaime Lima da Silva/Idesam
O óleo de breu produzido pela Associação Agroextrativista das Comunidades da Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Uatumã (AACRDSU), no interior do Amazonas, estreou como novo produto certificado no estande do FSC na NaturalTech, uma das maiores feiras de produtos orgânicos e naturais da América Latina, que aconteceu entre os dias 14 e 17 de junho, em São Paulo.
Esse resultado é fruto do trabalho desenvolvido pelo Idesam junto à Associação desde 2018. Até o momento, eles seguem sendo a única experiência no estado do Amazonas a contemplar as categorias de manejo madeireiro e não madeireiro.
A certificação da AACRDSU inclui uma área de produção de 44 mil hectares e, além do óleo de breu, contempla o de copaíba. A principal expectativa é de que os produtos possam acessar novos mercados com um retorno mais interessante do ponto de vista comercial a partir do valor da rastreabilidade de origem e do reconhecimento da prática sustentável.
Em junho, a marca coletiva Inatú Amazônia conquistou autorização para o uso da marca FSC no Brasil, com licença válida até 2028, para poder promover e divulgar os produtos certificados que fazem parte dela, como o óleo de breu – um produto florestal produzido de forma ecologicamente adequada, socialmente justa e economicamente viável, e no cumprimento de todas as leis vigentes.
“Antigamente, antes de termos conhecimento sobre o óleo, o breu era utilizado para vedar embarcações de madeira para que não entrasse água e era vendido a R$1,50 ou R$ 2. Hoje, chega a custar R$ 8. Todo esse processo de descoberta do óleo veio agregar valor aos nossos produtos e trazer renda para as comunidades. Hoje nós trabalhamos em uma área de plano de manejo, em que não se degrada a natureza”, afirma Vanderley Cruz, gestor da usina de óleos da RDS Uatumã.
Há quase 30 anos, o FSC promove o manejo florestal responsável como ferramenta econômica que, ao mesmo tempo em que respeita o ciclo natural da floresta, ajudando a conservá-la em pé, gera oportunidades de emprego e renda. Exemplo disso é a própria cadeia do Breu, resina extraída da árvore de mesmo nome, muito utilizada nas indústrias farmacêutica e de cosméticos.
“Após a extração, o breu é levado para a miniusina de óleos da RDS, onde é lavado, pilado e passa por um processo de destilação que dura em média oito horas, onde é extraído o óleo essencial. O óleo é envazado na própria RDS. Ele serve para quem sofre de sinusite, dor muscular e na cabeça. Com ele podem ser feitas velas aromáticas, incensos e sabonetes”, explica Vanderley.
Vencendo distâncias
Foram dois dias intensos de viagem para que Rogério Apurinã, indígena representante da Associação dos Produtores Agroextrativistas da Colônia do Sardinha (Aspacs), localizada no município de Lábrea, região sul do Amazonas, conseguisse chegar em São Paulo para participar da NaturalTech. “O meu recado é que não precisamos derrubar para ganhar, para lucrar, nós conseguimos viver, trabalhar da nossa forma. Nós temos uma forma de trabalhar conservando a natureza e isso deve ser conhecido e respeitado”, diz.
O óleo de andiroba, principal produto produzido pela Aspacs a partir do manejo florestal responsável, é um dos itens que integram o portfólio da marca coletiva Inatú Amazônia ®, criada a partir de uma parceria do Idesam com associações e cooperativas do Amazonas e que conta hoje com uma linha com seis óleos (fixos e essenciais), provenientes de produtos da biodiversidade amazônica, e objetos de madeira. O objetivo é fomentar e desenvolver cadeias de valor sustentáveis dentro desses territórios.
“Nós trabalhamos com os povos indígenas e ribeirinhos do rio Purus. Nosso principal foco é empregar mulheres e jovens em situação de vulnerabilidade. A andiroba traz um alto benefício e rendimento para a nossa comunidade e ajuda a manter a floresta em pé. Em época de safra, nós contratamos a compra da semente, que vem de um ouriço, caído de uma árvore, e depois da coleta, vem o processo de secagem, seleção, e aí é ela prensada e dessa prensa se retira o óleo”, explica Rogério. Ele ainda destaca as propriedades anti-inflamatórias e cicatrizantes da andiroba. “Antigamente era utilizado pelos indígenas no combate a doenças e infecções”, afirma.
Esse diferencial foi apresentado aos participantes da feira que reuniu 1.400 marcas e 700 expositores de todo o Brasil, além de outros 24 países.
“Está valendo muito a pena, pois estou tendo acesso a muito conhecimento. Os nossos produtos estão sendo divulgados e valorizados no mercado e as pessoas cada vez mais nos conhecendo. O que levo de retorno para a minha comunidade é saber que o nosso produto está sendo valorizado. Tanto na questão de preço, quanto de reconhecimento mesmo. Tudo isso tem uma história e tem uma cadeia de valor onde as pessoas só ganham ao se beneficiarem de um produto de qualidade, natural, vindo da floresta e ainda contribuem também com o meio ambiente”, afirmou.
Bioeconomia na prática
O óleo de copaíba produzido pela Associação Agroextrativista Aripuanã-Guariba (Asaga), no Projeto de Assentamento (PAE) em Apuí, no Amazonas, também vem rendendo resultados positivos para os produtores locais. A coleta acontece num período de 20 a 30 dias dentro da floresta.
“Moro no Aripuanã-Guariba e, por meio da Inatú Amazônia, nós conseguimos chegar até aqui representando a Asaga. Para extrair o óleo de copaíba, identificamos a árvore pela folha e fazemos o teste para ver se tem óleo ou não. Depois de extraído, o óleo é guardado em um galão de 20 a 30 litros e entregue na Associação, fica em processo de decantação para limpeza das impurezas e, em seguida, está pronto para a comercialização”, afirma Rosivaldo Góes, presidente da Asaga. O reconhecimento do som e vibração emitidos pelas costas do facão quando bate no tronco da árvore é um indicador da existência de resina para extração.
A associação trabalha com a extração de óleos amazônicos como alternativa econômica de valorização da comunidade, por meio do controle de qualidade do produto e busca de preços justos, incentivando boas práticas no manejo florestal e aplicando estratégias de redução dos custos na produção, com foco no impulsionamento da comercialização.
Antes do trabalho apoiado pelo Idesam, a produção das famílias era vendida para “atravessadores”, compradores locais que praticavam preço abaixo do valor de mercado. Graças à associação, os produtores conseguiram valorizar o óleo de copaíba, o que representou um aumento na renda dos moradores e, consequentemente, um incentivo a melhoria de qualidade de vida.
“Nossa associação foi criada em 2018, com o apoio do Idesam, e depois que surgiu a marca Inatú Amazônia, nossos produtos só valorizaram e melhorou a nossa vida”, resume Rosivaldo.
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