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Amazônidas do Século 21

Amazônidas do Século 21

5 de março de 2012

Por Barbara Kantrowitz | Reader’s Digest (Março/2012)
Tradução de Samuel Simões Neto

 

A tribo brasileira Suruí enfrentou madeireiros e fazendeiros que ameaçavam suas terras há anos. Nada funcionou – até que eles se tornaram high tech.

 

Se você observar a Reserva Suruí pelo Google Earth, você verá um oasis verde cercado por devastação. Os Paiter-Suruí eram uma próspera tribo no coração da Floresta Amazônica brasileira, mas depois que os antepassados tiveram contato, há várias décadas, com os ocidentais, eles foram quase dizimados; doenças trazidas pelos forasteiros reduziram o número de Suruís de 5.000 para cerca de 250.

 

Hoje, cerca de 1.600 indígenas vivem em 23 vilas distribuídas ao longo de mais de 240 mil hectares de terra. Apesar de usarem tanto jeans e camisetas quanto cocares de penas, os Suruí estão determinados a preservar e proteger sua cultura tribal amazônica.

 

Atualmente, eles estão novamente sitiados pela extração ilegal de madeira e pelo desmatamento, mas agora é diferente. Os Suruí colocaram de lado os arcos e flechas e lançaram mão de uma nova arma: a Internet.

 

Grande parte do crédito pela experiência da tribo na Web vai para o líder dos Suruí, o Chefe Almir Narayamoga. “Nós decidimos usar os computadores e a tecnologia para chamar a atenção para a nossa situação”, diz Narayamoga, 36 anos. Primeiro da sua tribo a frequentar um curso superior, o Chefe Narayamoga aprendeu a usar um computador na Universidade Federal de Goiás, em Goiânia, cidade de 1,2 milhões de habitantes. Em 2007, ele fugiu do território dos Suruí depois de enfrentar o desmatamento, o que supostamente levou alguns madeireiros a colocarem um prêmio de 100.000 dólares pela sua cabeça (desde 1998, 11 assassinatos de líderes de tribos da Amazônia foram atribuídos a madeireiros). No mesmo ano, com o apoio da Equipe de Conservação da Amazônia (ACT), ele viajou para os Estados Unidos e fez uma visita à sede do Google, na Califórnia. Ele chegou com uma grande ideia.

 

O chefe perguntou pela possibilidade de mapear o território Suruí através do software Google Earth, com marcações e fotos de vilas, áreas de caça e sítios sagrados, juntamente com áreas de companhias madeireiras e de mineração. Um tour online pela reserva, ele acredita, pode ajudar a proteger os Suruí mostrando ao mundo os efeitos do desmatamento e os ataques às terras indígenas. Também seria possível mostrar aos governos a ocorrência de operações ilegais. Dessa maneira, Narayamoga esperava levantar fundos para restaurar as áreas devestadas plantando um milhão de árvores. “Treinamento e educação são agora o nosso estilo de guerra”, diz. “Nós sabemos que temos que nos adaptar”.

 

A visita de Narayamoga ao Google foi considerada um grande sucesso. A corporação mundial de busca da Internet enviou equipes para a Amazônia a fim de treinar os Suruí a usarem computadores, câmeras e smartphones para fotografar áreas de desmatamento que poderiam ser localizadas utilizando a tecnologia GPS e adicionadas ao Google Earth. Os Suruí já mapearam completamente a reserva e gravaram a biodiversidade e a densidade da floresta tropical existente nela.

 

Kate Hurowitz, executiva do Google que viajou para a Amazônia para trabalhar com a tribo, ficou impressionada. “O chefe Narayamoga é um verdadeiro líder”, diz ela. “Ele realmente pensa além do local, até o global”. Nos quatro anos desde sua incursão ao mundo da alta tecnologia, os Suruí mantém o site paiter.org, com blogs, vídeos e fotografias para os seus apoiadores ao redor do mundo. Muitos dos vídeos e mapas usam legendas em inglês; os Suruí tem língua própria, Paiter Suruí, mas usam o português brasileiro nos conteúdos online.

 

Não há serviço telefônico ou conexão wireless na reserva, os habitantes da tribo precisam enfrentar duas horas de estradas até Cacoal, a cidade mais próxima com conexão Wi-Fi. Por enquanto, o mapeamento da reserva é feito com apoio financeiro da ACT e de outros grupos, mas o chefe Narayamoga espera que a tribo se torne financeiramente independente em dez anos, através da produção de café e do ecoturismo, as duas mais prováveis fontes de receita.

 

“O interessante sobre os Suruí é que eles tentam achar soluções próprias para os problemas que enfrentam”, diz Vasco van Roosmalen, presidente da ACT no Brasil. “Se você olhar o arco de destruição da Floresta Amazônica, as áreas que ainda possuem floresta são indígenas. [A tribo] é absolutamente crucial para segurar o desmatamento”.

 

O objetivo maior dos Suruí vai além de combater o desmatamento e extração ilegal de madeira. Com os esforços de reflorestamento em curso, a tribo fará uma requisição formal para entrar no programa de Comércio de Carbono da ONU, onde eles podem ser pagos, pelo mundo industrializado, para conter o desmatamento e preservar a floresta.

 

Os Suruí chamam o Google de ragogmakan, que significa “messenger”. Trocar arcos e flechas por laptops, além de proteger a tribo, ajudou-os a difundir a sua mensagem. “Há dois ou três anos, ninguém acreditava que nós poderíamos tirar todos os madeireiros das nossas terras, mas nós conseguimos”, disse Narayamoga. “É o começo da mudança.”

 

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