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Abril Indígena: Comunicadores do Sul do Amazonas destacam ações em celebração ao Dia dos Povos Indígenas

Abril Indígena: Comunicadores do Sul do Amazonas destacam ações em celebração ao Dia dos Povos Indígenas

O Coletivo Jocsam esteve presente em atividades de celebração ao 19 de abril, nos municípios de Humaitá, Lábrea, Tapauá e Manicoré 

 

Texto: Camila Garcêz/Idesam, com informações do Jocsam 

Foto: Jocsam 

Pela primeira vez na história brasileira, os povos originários de culturas diversas comemoraram o Dia dos Povos Indígenas. A data do dia 19 de abril, que antes era conhecida por “Dia do Índio”, teve o nome alterado por meio da Lei Nº 14.402/2022, de autoria da então deputada federal indígena Joenia Wapichana (Rede), após o Congresso Nacional derrubar o veto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). 

De acordo com o texto do projeto, a palavra ‘índio’ reforça estereótipos e discriminação, além de não considerar a diversidade das mais de 300 etnias existentes no Brasil. Logo, para estes povos, o termo indígena, que significa originário, é a denominação mais adequada para se referir a eles, que já povoavam o Brasil muito antes da invasão portuguesa. 

O Abril Indígena marca a conquista e retomada de direitos das populações originárias com celebrações da cultura, existência e resistência desses povos, que também, pela primeira vez, puderam comemorar a fundação de um ministério totalmente dedicado à sua luta, o Ministério dos Povos Indígenas, liderado pela ministra Sônia Guajajara. Para Emily Parintintin, comunicadora indígena do sul do Amazonas, o Abril Indígena marca um processo de transformação na luta desses povos. 

“A criação desse ministério traz um impacto positivo para todos nós! Finalmente temos a representação que precisávamos ver, principalmente por ser uma mulher, indígena, que sabe de todas as dificuldades que nós enfrentamos, das nossas conquistas e lutas. Parece que, finalmente, a gente pode respirar! É um alívio depois de tantos retrocessos, de tantas mortes, de tanto sangue derramado nas nossas florestas”, comemorou. 

 

Aliança para o Desenvolvimento Sustentável do Sul do Amazonas 

O Idesam, em parceria com outras organizações da sociedade civil e órgãos governamentais, integra a Aliança para o Desenvolvimento Sustentável do Sul do Amazonas (ADSSA), que engloba dez municípios localizados no sul do estado, que são: Apuí, Boca do Acre, Canutama, Humaitá, Lábrea, Manicoré, Maués, Novo Aripuanã, Pauini e Tapauá. A ADSSA é uma rede criada para o enfrentamento de desafios comuns do território sul do Amazonas, e reúne participação social, empoderamento local e parcerias entre os diversos setores da sociedade civil e os diferentes níveis de governo. A ADSSA possibilita um espaço plural de debate, construção socioambiental e econômica, articulação em rede e promove a cooperação entre entes federativos, iniciativa privada, sociedade civil organizada, comunidades tradicionais, agricultores familiares e povos indígenas. 

Foi por meio dessa Aliança, que se organizou o Coletivo de Jovens Comunicadores do Sul do Amazonas (Jocsam). Com um ano de existência, o coletivo se mobiliza para cobrir e informar as pautas desses territórios para a sociedade em geral. Kanynary Apurinã, coordenador do coletivo, conta que o movimento surgiu pela necessidade de se comunicar tanto internamente, quanto externamente os desafios e conquistas dos povos da floresta.  

“O nosso coletivo abre espaço para que a juventude seja a protagonista destas informações. Atuamos nos dez municípios que compõem a Aliança para o Desenvolvimento Sustentável do Sul do Amazonas, com o intuito de repassar tudo o que acontece nessas localidades e trocar informações. Comunicar na Amazônia não é para todo mundo, mas o Jocsam entende que essa é uma necessidade para essas populações”, afirmou. 

Kanynary também frisou as dificuldades e conquistas dos povos tradicionais em comunicar na floresta. “Falta de acessibilidade, inclusive, no deslocamento para as regiões distantes que compõem o sul do Amazonas, alguns municípios só temos acesso fluvial, outros apenas acesso terrestre, as chuvas também atrapalham. Temos dificuldades no acesso à internet, faltam equipamentos adequados para a comunicação, como celular de boa qualidade, equipamentos fotográficos e gravadores de áudio, ainda necessitamos de uma estrutura própria e básica”, relatou.  

Em março, o Idesam realizou a II Oficina de Comunicação e Juventude com os membros do Jocsam e uma das atividades práticas foi a produção de conteúdo para as redes sociais sobre o tema Abril Indígena. O coletivo destaca as atividades nos seguintes territórios. 

 

Lábrea 

No município de Lábrea, o coletivo recebeu apoio da prefeitura para a realização das ações. As atividades iniciaram com uma caminhada dentro das aldeias, convidando as comunidades a participarem e ajudarem nas comemorações. Também realizaram trilha na selva, competições de arco e flecha, canoada, corrida de tronco e a escolha do garoto e garota indígena. O evento contou com a participação do prefeito e vice-prefeito de Lábrea, autoridades locais, Secretaria de Meio Ambiente de Lábrea, Secretaria de Esporte e Lazer de Lábrea e também a Central Única das Favelas (Cufa). 

Créditos: Jocsam

Foto: Jocsam

 

Tapauá 

Em Tapauá, a atividade foi realizada na Aldeia Santo Agostinho, da Terra Indígena (TI) São João. O local recebeu exposições de artesanato, danças culturais, pinturas corporais e o ensinamento para os mais novos do que é a cultura do povo Apurinã. A ação contou com a participação da Secretaria de Meio Ambiente de Tapauá e autoridades locais. O objetivo do evento foi promover o diálogo entre as autoridades locais e os povos indígenas, principalmente sobre conflitos gerados pela abertura ilegal de um ramal que corta a TI São João. 

Foto: Jocsam

 

Manicoré 

No município de Manicoré, a ação foi conjunta com o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), por meio da participação e apoio da jovem Kaline Kailane, que integra o Jocsam. Ela foi convidada a participar das celebrações do Dia dos Povos Indígenas, no dia 19 de abril em uma comunidade tradicional local. O evento contou com palestras, troca de experiências, pinturas corporais, confecções e artesanato para crianças. “Esse movimento é algo que ainda está brotando, mas que vemos que tem avanços. Espero que nos próximos anos tenhamos envolvimento das autoridades de Manicoré, para que façam parte da história dos povos indígenas assim como os povos indígenas fazem parte da história do Brasil”, destacou Kaline. 

Foto: Jocsam

 

Humaitá 

Humaitá é um município com grande diversidade de povos indígenas, como os Parintintin, Torá, Urueu, Tenharim e Dijahui, e outros. Lá, as comunidades estiveram mobilizadas e organizadas na realização de atividades dentro das bases comunitárias e escolas nas Terras Indígenas. De acordo com Tiago Castelano, do povo Parintintin, as ações desenvolvidas abordaram as lutas, costumes e culturas desses povos.  

“Nós falamos sobre a importância da língua para nossa cultura, do ensinamento dos clãs e realizamos atividades comemorativas com as crianças, para explicar a mudança do termo pejorativo índio, para a denominação correta que é indígena. Uma maneira de educar as crianças indígenas para que tenham orgulho e respeito pela sua ancestralidade”, destacou. 

Foto: Jocsam

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