
Em quatro meses, Terras Indígenas somam desmatamento superior a 300 campos de futebol
Terceira edição do boletim já está disponível no site do Idesam e indica pontos de desmatamento nas TIs que compõem o corredor
Por Henrique Saunier
Edição de Samuel Simões Neto
Somente nos primeiros quatro meses de 2018, o desmatamento no corredor Tupi-Mondé já atingiu um nível equivalente a 378 campos de futebol: foram 269,7 hectares apenas entre janeiro e abril. Considerando todo o acompanhamento do estudo, desde janeiro de 2017, são 2,5 mil hectares de floresta devastada.
Ainda que o número registrado de janeiro a abril de 2018 mostre uma retração nas taxas de desmatamento em relação ao mesmo período de 2017, os pesquisadores indicam que o desmatamento pode ser ainda maior, uma vez que uma intensa cobertura de nuvens no período pode ter contribuído com a não identificação de todas as novas áreas desmatadas.
No total, foram detectados 3.595 alertas de desmatamento via satélite, pelo sistema GLAD, da plataforma Global Forest Watch (GFW).
O Tupi-Mondé compreende uma área de 3,5 milhões de hectares, localizada na fronteira dos estados de Rondônia e Mato Grosso. O corredor é atualmente uma das regiões sob maior pressão de desmatamento na Amazônia. Para as organizações que assinam o boletim do desmatamento, a perda de florestas afeta as TIs não apenas pela fragmentação de um enorme corredor florestal, mas também se torna uma grande ameaça à cultura e ao modo de vida tradicional de 6.000 indígenas dos povos Cinta Larga, Zoró, Paiter Suruí, Arara e Gavião.
A exploração ilegal de madeira, o uso de queimadas para implementação de pastagens, invasões irregulares e atividades ligadas à mineração foram identificados como os principais vetores de desmatamento. “A madeira é um vetor comum a todas as sete Terras Indígenas que formam o Corredor Tupi-Mondé”, indica Pedro Soares, gerente de Mudanças Climáticas do Idesam.
Em depoimento divulgado no informativo, o líder do povo indígena Gavião, Josias Gavião, afirma que a pressão pelo desmatamento está cada vez maior devido à expansão de atividades econômicas ligadas à pecuária dentro da TI. “Um longo caminho ainda falta ser percorrido para promover o desenvolvimento sustentável nesses territórios”, lamenta.
Coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé e uma das colaboradoras na produção do boletim, Ivaneide Bandeira ressalta que a entidade possui ações de proteção ao território, tentando sempre deixar visível, através do monitoramento, os danos causados às terras indígenas.
“O objetivo desse tipo de alerta é gerar mudanças no comportamento daqueles que têm o dever de proteger, bem como do poder judiciário, que pode acabar com a impunidade de atos criminosos”, destaca.
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