Protagonismo comunitário marca nova fase da Inatú Amazônia na iniciativa de produção sustentável
A marca coletiva de produtores da floresta inicia uma nova etapa com enfoque no protagonismo de associações comunitárias.
Texto: Vanessa Brito/Idesam
Fotos: Sheila Benjamin/Lume Comunicação Criativa
Uma nova fase em busca da formalização da marca coletiva de produtos da floresta com cada vez mais protagonismo comunitário de associações da região amazônica. Com esse intuito, a Iniciativa Estratégica Produção Sustentável do Idesam apoiará a criação de um CNPJ único previsto para ser formalizando até junho deste ano – gerido pelas organizações sociais – para a Inatú Amazônia visando a comercialização de produtos da biodiversidade amazônica, como óleos vegetais, manteigas e peças de madeira originadas do manejo florestal comunitário.

O extrativista Rosivaldo Góes, integrante da Asaga. Foto: Sheila Benjamin/Lume Comunicação Criativa
Esse momento conta com a atuação forte de associações como a Associação Agroextrativista Aripuanã Guariba (Asaga), da comunidade Bela Vista do Guariba, na região do município de Apuí, no Sul do Amazonas. O extrativista Rosivaldo Góes explica o entusiasmo e expectativa para essa nova formalização de uma marca que possa ser agregada pelo protagonismo de associações e comunitários que vivem em contato com a floresta amazônica.
“O que trouxe de benefícios foi a qualidade dos produtos, ampliou mais o preço dos nossos produtos, vamos conseguir uma marca coletiva que é algo muito bom para nós. Eu já trabalho há dois anos com a Inatú e posso dizer que a marca melhorou a vida dos comunitários, porque abriu as portas para a associação, para qualidade dos nossos produtos, especialmente na resina de óleo de copaíba. Antes vendíamos por um valor muito baixo. Mudou muita coisa, as pessoas passaram a acreditar que a vida pode melhorar”, destacou Rosivaldo Góes, presidente da Asaga.
Outra associação que destacou o trabalho em conjunto foi a Associação dos Produtores Agroextrativistas da Colônia do Sardinha (Aspacs). Agora todos conseguem trabalhar de forma mais organizada e estratégica. “Essa união é importante. Já estava sendo cogitado criar uma marca coletiva que viria a ser uma empresa, então surgiu a oportunidade e, através do Idesam, conseguimos entrar com os nossos produtos”, lembrou Sandra Barros, da Aspacs. “A ideia é fortalecer ainda mais o trabalho das associações”, completou Rogério Apurinã, também da Aspacs.

Rogério Apurinã é um dos extrativistas da Aspacs. Foto: Sheila Benjamin/Lume Comunicação Criativa
O produtor Fabiano Aparecido, da Associação Ouro Verde (Apfov), do município de Apuí, lembrou de como o trabalho melhorou a partir da ação em conjunto com outras associações. “A gente trabalha com óleo essencial de buruti e estamos testando agora o óleo de café. Já temos dois anos com a Inatú, que era uma marca e agora está se tornando uma empresa. A vida melhorou nesses dois anos de trabalho. A Inatú Amazônia trouxe sim o recurso para nossa comunidade, porque temos o retorno da venda dos nossos óleos. Estou muito feliz que agora vamos fazer parte dessa empresa e vamos nos tornar algo maior”, afirmou.
Segundo Laureni Barros, da Apadrit, da Reserva Extrativista (Resex) Ituxi, as associações possuem um novo desafio que deverá ser vencido com a força do trabalho em conjunto. “Começamos a trabalhar desde o início da Inatú Amazônia. Melhorou demais, fortaleceu nossa gestão, conseguimos gerir nosso empreendimento de forma organizada. A Inatú é uma marca que só nos fortalece. Está nos mostrando a autonomia que nós temos em fortalecer o negócio. Nosso grupo é jovem e esse é um ponto importante que conseguimos vencer. Trabalhamos com manejo florestal comunitário, copaíba, mas temos outros produtos. Pra nós, é muito importante esse voto de confiança do Idesam. Criar a empresa é muito importante e ao mesmo tempo um desafio muito grande”, disse.

Fabiano Aparecido, um dos produtores da Apfov. Foto: Sheila Benjamin/Lume Comunicação Criativa
Apoiar a união e autonomia das associações extrativistas é um dos objetivos da Iniciativa Estratégica de Produção Sustentável. Marcus Biazatti, líder da iniciativa no Idesam, afirma que é necessário fazer com que os produtores rurais (extrativistas e manejadores) se tornem os empreendedores da floresta. “Nós sempre perguntamos para eles se eles querem desenvolver algo, se não, nós não fazemos. Para justamente a decisão partir deles. O Idesam traz o apoio técnico, as oportunidades e os desafios, mas se eles não abraçarem o trabalho, nós não prosseguimos”.
André Vianna, diretor técnico do Idesam, explica ainda a nova fase da marca coletiva. “A Inatú Amazônia nasceu do projeto Cidades Florestais, financiado pelo Fundo Amazônia, e ela se inicia como uma tecnologia social, que era um conjunto de ações, atividades e metodologias de como trabalhar com associações e empresas familiares, bem como assistência técnica para exploração das cadeias de valor. Apoiar em atividades técnicas, oficinas, ações no campo, acesso a tecnologias etc. Criamos a marca coletiva para facilitar a comunicação com o mercado, mas ao longo do tempo começamos a perder algumas oportunidades. Agora, estamos na fase de desenvolvimento do negócio socioambiental que vai ser um CNPJ único, mas que vai juntar toda essa estratégia para promover a produção e comercialização desses produtos”, afirmou.

Laureni Barros faz parte da associação Apadrit. Foto: Sheila Benjamin/Lume Comunicação Criativa
Os representantes das associações da Inatú Amazônia participaram no mês de janeiro de uma oficina que buscou fortalecer o relacionamento e a estratégia entre as associações e comunidades tradicionais que formam a marca coletiva. O encontro contou com a presença das lideranças comunitárias da ASPACS, APADRIT, ASAGA, APFOV, AACRDSU e Movelaria ILC, que representam comunidades tradicionais da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã, da Reserva Extrativista do Rio Ituxi, do município de Lábrea, do Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Aripuanã Guariba no município de Apuí e produtores familiares de Apuí. As lideranças das associações participaram de uma assinatura simbólica do compromisso de ativação do negócio.
O consultor José Mattos, CEO da Via Floresta e consultor do projeto de modelagem do negócio Inatú Amazônia destaca a importância desta agenda. “É muito importante participar dessa consultoria, não só pela vanguarda que é essa marca coletiva, na Amazônia, como também a possibilidade de estarmos com associações e empresas familiares, que já lutam há tanto tempo e têm produtos excelentes para oferecer para o público. Nada disso teria sido alcançado sem a relação prévia do Idesam com essas associações. Para que esse protagonismo dê certo, o protagonismo das associações é fundamental”, afirmou.
Mattos destaca também o papel da Oficina Inatú Amazônia na implementação desse negócio de impacto social e coletivo. “Um dos momentos mais importantes da oficina é que eles se sentiram mais próximos. As associações se sentiram presentes, representadas e sentiram a responsabilidade de continuar contribuindo, dialogando e, sobretudo, participar do negócio como parte do conselho administrativo que será a base através da qual vamos aprender bastante sobre negócios coletivos na Amazônia”, concluiu.
Sobre o Idesam
O Idesam é uma Oscip com atuação na Amazônia Legal desde 2004. Em 2022, teve o reconhecimento como uma das 100 melhores ONGs do Brasil e o Prêmio Empreendedor Social- Inovação em Meio Ambiente pela Folha de São Paulo e Fundação Schwab. O propósito do Instituto é promover uma nova economia de base inclusiva e sustentável na Amazônia, criando conexões aos atores de suas cadeias de valor e apontando novos caminhos inovadores para a conservação e a redução da pobreza. Até o momento, os indicadores são de 8,5 milhões de hectares de florestas conservadas em 34 territórios na Amazônia; 6 mil famílias impactadas e 23 organizações sociais envolvidas. Coordena e apoia as iniciativas estratégicas AMAZ Aceleradora de Impacto, Programa Prioritário de Bioeconomia, Inatú Amazônia, Café Apuí Agroflorestal e Programa Carbono Neutro, além da secretaria executiva do Observatório da BR-319.
Deixe um comentário