DOE AGORA

Aliança Apuí analisa desmatamento e incêndios para auxiliar ações de combate e controle no município

content image
Aliança Apuí analisa desmatamento e incêndios para auxiliar ações de combate e controle no município

Movimento é composto pelo Idesam, Sema-Apuí, WeForest, WWF e FARM

 

Por Henrique Saunier
Foto: Matheus Pedroso/Arquivo Idesam

 

Pouco mais de dois meses depois de o Idesam lançar uma Nota Técnica com recomendações de curto e médio prazo para a situação crítica das queimadas em Apuí, o instituto avança em mais uma ação da ALIANÇA APUÍ ao lançar uma análise que relaciona os focos de calor dos incêndios com o desmatamento na região. De acordo com dados do INPE na análise assinada pelo pesquisador sênior associado do Idesam, o biólogo Gabriel Carrero, entre agosto de 2018 até agosto de 2019, Apuí teve 28 mil hectares de floresta desmatada, o equivalente a quase 26 mil campos de futebol.

Com essa análise que contempla o primeiro dos quatro eixos da Aliança Apuí – o de “criação de inteligência estratégica” – mais ações poderão ser tomadas com embasamento técnico e com maior conhecimento das áreas mais prejudicadas no município. Os demais eixos da aliança compreendem uma “sala de situação”, que consiste em um plano para promover ações de prevenção e substituição do uso do fogo para a limpeza de pastagens; o eixo “apagando o fogo”, cujo objetivo é qualificar e aparelhar a brigada local; e “recuperando o prejuízo”, com a realização do plantio de sistemas agroflorestal e silvipastoril.

Atualmente, a Aliança Apuí é coordenada pelo Idesam e Secretaria de Meio Ambiente de Apuí, além de contar com apoio da WeForest, WWF e FARM, todas unidas com o mesmo objetivo de controlar as queimadas e incêndios na região e trazer maior transparência acerca dos dados sobre o desmatamento e focos de calor.

Nessa primeira análise, foi possível identificar as principais áreas e os perfis de atores envolvidos no desmatamento. As regiões mais críticas se concentram na porção leste e nordeste do Projeto de Assentamento Rio Juma, nas redondezas das vicinais Dom Pedro, Nova Vida, Cacoal, Vale do Camaiú  e da vila do Sucunduri.

Para o biólogo Gabriel Carrero, que há anos acompanha de perto a situação do município, a análise ratifica um processo que vem se intensificando desde a criação de Apuí. Segundo o pesquisador, as áreas de floresta estão sendo ocupadas para a expansão de fazendas agropecuárias, sobretudo por recém-chegados querendo investir no mercado de terras e pecuária no Amazonas.

“A intensificação da expansão de áreas agropecuárias não só reflete a chegada de pessoas com dinheiro para investir, mas também mudanças no cenário político e econômico desde a aprovação do novo código florestal em 2012, junto com melhorias em infraestruturas, o fortalecimento do agronegócio e redução de ações de controle e fiscalização”, pondera Carrero.

O gerente de Mudanças Climáticas do Idesam, Pedro Soares, ressalta que esse estudo prévio é apenas uma das ações já tomadas após os casos de incêndio florestais em Apuí se tornarem destaque negativo na mídia nacional e internacional.  Além dessa primeira análise de situação, uma segunda análise técnica com mais detalhes está em fase final de elaboração, o que dará mais subsídio para as ações a serem tomadas. Esta análise irá quantificar a extensão das áreas afetadas pelas queimadas e incêndios, e o quanto dela aconteceu em áreas de pastagens, em desmatadas e em áreas de floresta nativa.

“Estamos ainda criando uma plataforma de transparência e prestação de contas da Aliança Apuí. Também já foi realizada, no final de outubro, uma capacitação da Brigada de Incêndio de Apuí junto ao Corpo de Bombeiros. Fora isso, tivemos todo um acompanhamento das atividades de campo da Ronda da Brigada, junto ao PrevFogo (Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais) do Ibama”, destaca Soares, ao informar que a compra de equipamentos necessários para a melhoria no combate a incêndios é uma das próximas etapas do movimento.

Ações

A região sul do Amazonas é uma frente de expansão agropecuária na Amazônia, recebendo enorme pressão dos estados de Mato Grosso e Rondônia. Dos cinco municípios amazonenses na lista de municípios críticos do desmatamento, Apuí, Lábrea e Novo Aripuanã deram um salto em 2019, e continuam entre os municípios mais desmatados anualmente na Amazônia.

As ações para a redução de queimadas e incêndios sugeridas pelo pesquisador devem ser focados na execução de aceiros tanto ao redor de áreas de agropecuária e de floresta recém-derrubada. Ele reforça que técnicas que não envolvam o uso do fogo para a formação e manutenção de áreas agropecuárias precisam ser incentivadas.

Entre as ações, o Instituto também propõe uma agenda positiva para o município, voltada à restauração florestal e ao incentivo à produção sustentável. Uma das estratégicas adotadas pelo Idesam em seus projetos na região que precisa ser mais difundida é o uso dos sistemas agroflorestais (SAF) e sistemas silvipastoris (SSPI), que mostram ser possível conciliar a produção agropecuária e florestal com a conservação de florestas nativas. As propostas buscam também consolidar a vida produtiva dos moradores locais, com aprimoramento da produção, técnicas de baixo impacto ambiental e combate a invasões e grilagem.

*A análise completa pode ser acessada neste link.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relacionados

WordPress Lightbox Plugin