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Reserva do Uatumã obtém certificação FSC® em 2022

Reserva do Uatumã obtém certificação FSC® em 2022

O selo FSC® é resultado de um trabalho desenvolvido desde 2018 pelo Idesam junto aos extrativistas da RDS do Uatumã e é o único no Amazonas a incluir as categorias madeireiro e não-madeireiro.

 

Por Samuel Simões Neto
Foto: Aldemar Matias

 

O mês de fevereiro tornou-se um marco importante para as ações realizadas pelo Idesam na RDS (Reserva de Desenvolvimento Sustentável) do Uatumã. Depois de um longo trabalho que envolveu atividades de capacitação, assistência técnica e apoio institucional, a associação-mãe da reserva, a AACRDSU (Associação Agroextrativista das Comunidades da RDS do Uatumã) recebeu, do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), a certificação para Manejo Florestal e de Cadeia de Custódia FSC®.

A certificação,  com vigência até janeiro de 2027, inclui uma área de produção de 44 mil hectares. Estão contemplados os produtos florestais madeireiros e não-madeireiros desenvolvidos e comercializados pela associação, que tiveram sua estruturação apoiada pelo Projeto Cidades Florestais, do Idesam, financiado pelo Fundo Amazônia /BNDES. 

Os produtos fazem parte da marca coletiva Inatú Amazônia, lançada em agosto de 2020, que hoje possui uma linha com seis óleos (fixos e essenciais), a partir de produtos da biodiversidade amazônica, além de objetos de madeira.

A maior expectativa, de acordo com o diretor técnico do Idesam, André Vianna, é que, a partir de agora, os produtos poderão alcançar novos mercados, com um retorno mais interessante do ponto de vista econômico. Ainda assim, o certificado não tem apenas esse objetivo.

“Desde o início do processo de certificação, o grupo de manejadores da AACRDSU e o Idesam focaram no uso dos critérios e indicadores do padrão de certificação FSC como uma ferramenta para melhorar a gestão das atividades produtivas”, explica o dirigente. 

 

“Para nós, isso é uma conquista muito grande, é a certeza que nosso trabalho não foi – e não será – em vão. A certificação nos mostra que vale a pena esperar mais e fazer ‘tudo direitinho’ para termos esse resultado”

– Diana Prado Costa, presidente da AACRDSU

 

Segundo Vianna, o uso do sistema FSC® permite que o detentor do certificado monitore suas atividades não apenas considerando a qualidade da exploração, mas inclui ainda critérios como: avaliação e mitigação de impactos ambientais e sociais; aspectos de segurança e saúde do trabalhador; entre outros.

Conforme os dados do FSC, hoje, na Amazônia existem sete planos de manejo comunitários certificados, sendo o plano do Uatumã o único que contempla as duas categorias, madeireiro e não-madeireiro (como resinas, óleos e frutos). No Amazonas, até então, apenas a comunidade Vila Céu do Mapiá, localizada na Floresta Nacional (Flona) do Purus, tinha obtido o selo na categoria de madeireiro para comunidades. 

“Nesses últimos anos, temos visto, além de uma maior participação de pequenos e médios produtores no sistema FSC, uma diversificação de certificações que vai além da madeira. A história da associação do Uatumã exemplifica claramente essa tendência e representa uma mudança de paradigma – a floresta em todo o seu potencial e a valorização dos povos que ali moram e dela sobrevivem”, celebra Daniela Vilela, diretora executiva do FSC® Brasil.

Na visão de Bruno Castro, coordenador  de certificação do Imaflora, certificar a AACRDSU representa contribuir com o desenvolvimento do manejo florestal comunitário no estado, ampliando as condições para que o manejo continue a ser um vetor de desenvolvimento territorial, melhorando a qualidade de vida das pessoas e valorizando a floresta em pé. 

 

“Significa ampliar o acesso da sociedade em geral à produtos da sociobiodiversidade com a marca da certificação FSC, ou seja, produtos com origem responsável e manejados com boas práticas ambientais, sociais e econômicas”

– Bruno Castro, coordenador de certificação do Imaflora

 

Para obter a certificação, o Idesam realizou diferentes cursos para capacitar os manejadores, tanto em aspectos técnicos, como de segurança e de gestão. Os técnicos do Idesam também acompanham as ações de campo e desenvolvem junto aos manejadores as melhorias necessárias. 

Além disso, o financiamento do Fundo Amazônia permitiu ao projeto custear a contratação de consultores para a construção do sistema de gestão hoje utilizado pelo Grupo de Manejadores da AACRDSU, além de ter permitido todo o processo de auditoria florestal.

O esforço valeu a pena. Castro lista uma série de benefícios que poderão ser obtidos pela associação. O primeiro deles é o uso da própria certificação enquanto uma importante ferramenta de gestão de negócio “A associação pode desenvolver e aprimorar a organização das suas documentações pertinentes, a definição das atividades importantes para o sucesso do manejo, a elaboração dos planos de manejo de acordo com a realidade local, a elaboração de procedimentos e protocolos internos, entre outros pontos”.

Além de uma série de melhorias na organização social, nas práticas de manejo e nas condições de saúde e segurança dos trabalhadores, o auditor destaca ainda a rastreabilidade como um dos resultados de maior impacto do processo. Os procedimentos criados, o monitoramento e os registros confiáveis evitam que o produto certificado seja misturado com produtos de origem desconhecida. “Tal resultado é importante para garantir a procedência do produto oferecido ao consumidor”, complementa.

Bruno finaliza a lista de benefícios com os ganhos financeiros que podem ser gerados às famílias que participam da atividade. Ele acentua que, com a marca FSC, a associação pode buscar a inserção em novos mercados, que valorizam os produtos de origem responsável.

“Para a gente, isso significa a chegada de dias melhores, com nossa produção ganhando e gerando cada vez mais valor”, complementa Diana.

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