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A Floresta em pé

A Floresta em pé

Por Alexandre Mansur

Revista Época – Nos últimos anos, a floresta virou uma das principais esperanças para conter as mudanças climáticas. Mas quem vai pagar para mantê-la em pé? A esperança é criar um mecanismo para que os países que precisam cortar suas emissões responsáveis pelo aquecimento global compensem parte da responsabilidade pagando a quem reduzir o desmatamento – esse é, resumidamente, o mecanismo conhecido como “comércio de créditos de carbono”. Isso, pelo menos, é o que esperam os países ricos em floresta, como o Brasil, do futuro tratado do clima, discutido em Copenhague. À margem das negociações, o dinheiro já está vindo.

É o que revela o primeiro levantamento de projetos de pagamento por redução no desmatamento, ou Redd (da sigla em inglês), feito pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam). A análise de 17 projetos na América Latina, a região mais avançada do mundo nisso, mostra que investidores privados pagam entre US$ 0,13 e US$ 6,31 por tonelada de carbono estocado nas árvores. Em média, US$ 3,49 por tonelada. É menos do que as empresas pagam em Bolsas de Chicago, nos Estados Unidos, ou da Europa pelos créditos de poluição evitada em indústrias. Lá, a tonelada de carbono gira em torno de US$ 16. “Como ainda não há mecanismo oficial para a troca internacional dos créditos da floresta, os investidores arriscam agora na esperança de vender mais caro depois”, diz Mariano Cenamo, secretário executivo do Idesam.

Um dos primeiros casos bem-sucedidos de venda de créditos está na Reserva Juma, no município de Novo Aripuanã, Amazonas. À beira de uma rodovia, a reserva estava sob intensa pressão de desmatamento. Para evitar isso, a Fundação Amazônia Sustentável, bancada pelo governo do Amazonas e pelo Banco Bradesco, prevê investir US$ 24 milhões em 44 anos em escolas, saneamento básico e alternativas de renda para as comunidades da floresta. Em 2008, o projeto recebeu licença para vender créditos pelo carbono não emitido. A rede de hotéis americana Marriott comprou. O hotel também encoraja seus hóspedes a colaborar com doações a partir de R$ 2 para a floresta. Além de bom para o marketing, a Marriott pode revender esses créditos mais tarde, com lucro, se o preço subir.

O crescimento do mercado de carbono desperta medo de alguns ambientalistas. No mês passado, a ONG Amigos da Terra divulgou um relatório em que critica a especulação crescente que cerca o comércio dos créditos verdes. O texto diz que o entusiasmo nesse mercado poderia criar uma bolha semelhante à que detonou a crise imobiliária nos Estados Unidos em 2008. Há o receio de que empresas não tenham interesse verdadeiro nos projetos de preservação. Apesar das críticas, o movimento especulativo é um bom sinal. Mostra que há gente apostando na floresta em pé.

Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI110079-15223,00-A+FLORESTA+EM+PE.html

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